quinta-feira, 19 de maio de 2011

Código Florestal provoca frisson

Nesta quarta-feira eu reencontrei, depois de muito tempo, a minha querida amiga Selene Yuasa. Desde jovenzinha a Selene tem vínculos com o PCdoB. Começou trabalhando na ex-sede do partido em São Paulo, na rua Condessa de São Joaquim, ajudou muitas campanhas e sempre militou no nosso campo.

Selene hoje é advogada de Direito Ambiental e também professora na mesma área. Tem escritório na Aclimação, bairro central da capital paulista e exerce o seu ofício em vários estados. Na conversa que tive com ela, relembrei que em 1990 fomos ao Morumbi ver o Timão conquistar o primeiro título do Brasileirão.

Mas esse longo prolegômeno é só para encher linguiça. O que eu quero destacar é que a Selene, brava, disse: "nunca mais voto no Aldo Rebelo. Nem eu nem muitos dos meus conhecidos". A origem da diatribe, todos devem desconfiar, é o relatório (pouco lido) do Aldo sobre a atualização do Código Florestal.

Não é a primeira pessoa que eu ouço dizer isso. Outro dia, em uma festa do cinquentário da minha amiga advogada da Sabesp, Cristina Soares, estava jogando conversa fora com os convidados quando interveio a Ângela, irmã da aniversariante, também para criticar o nosso líder Rebelo.

A Cristina e a Ângela são de Araçatuba, cidade do oeste paulista, mais ou menos 600 km de distância da Capital. A família tinha um grande prazer, segundo a Ângela, quando recebia o Aldo em sua residência. O pai, advogado respeitado na cidade e comunista, construiu uma grande família de ideias progressistas.

Essas minhas amigas, todas bem intencionadas, acreditam na versão fabricada por parte da imprensa e reverberada por grupos e ONGs ambientalistas, segundo a qual o Aldo se transformou em um deputado amigo dos ruralistas e inimigo do meio ambiente. Quanto reducionismo!

A maioria desconhece a história da relatoria do Código Florestal e adota opiniões a partir de, é isso que eu acho, interpretação acrítica do que sai na mídia e das posições de entidades como Greenpeace (antinacional) ou MST (atrasada nesta matéria) e certos políticos, com destaque para Marina da Silva.

Aldo jamais pleiteou ser relator desse vespeiro chamado Código Florestal e sua trajetória política tem pouca aproximação com os chamados ruralistas. Ele foi chamado para ser relator por sua amplitude política, capacidade de diálogo, equilíbrio e coragem para enfrentar e derrotar certos mitos.

O conteúdo de seu relatório busca um equilíbrio entre a produção agrícola e a preservação ambiental, apesar das críticas sectárias de alguns. Aldo desmistificou uma tese absurda que pulula na cabeça de muitas pessoas segundo a qual todo ruralista é bandido e todo ambientalista é mocinho. Isso é conversa pra boi dormir.

Há ruralista predador e também ruralista empreededor, parte integrante do setor produtivo nacional, responsável por parcela significativa do PIB brasileiro. Da mesma forma que há ambientalistas sérios e ambientalistas equivocados, instrumentalizados por interesses que nada tem a ver com o Brasil.

Ocorre que o Código Florestal vigente foi desfigurado por uma enorme quantidade de decretos, normas e dispositivos que jogaram na ilegalidade milhões de produtores rurais, principalmente agricultores familiares e pequenos produtores. A atualização do Código tornou-se, assim, necessária e inevitável.

Para realizar sua tarefa, Aldo percorreu o Brasil todo, realizou centenas de reuniões e audiências públicas. Antes de finalizar o seu relatório, reuniu-se com todas as bancadas para aperfeiçoar o texto. E passou tudo pelo crivo do próprio governo.

O ano passado houve eleições, transferiu-se para a atual legislatura a votação. Depois de diversos adiamentos, espera-se que na próxima semana a novela Código Florestal tenha o seu fim. Como forças poderosas encobertas pelo véu do ambientalismo se movimentam, tudo é possível acontecer, inclusive nada.

O conteúdo do relatório do Aldo busca retirar da ilegalidade milhões de produtores rurais sem se descuidar das preocupações ambientais. Nesta área a legislação brasileira é a mais severa do mundo. Mas há um segmento da sociedade brasileira contrário a que se mexa em uma vírgula do Código. Aí o impasse.

Áreas de proteção permanente, reserva legal, proteção de morros, encostas e margens de rios, tudo isso é resguardado no relatório, a despeito da campanha covarde e mentirosa de organizações estrangeiras como a ONG Greenpeace.

A mídia, acrescentando uma dose de anticomunismo, procura amplificar posições de figuras como Marina da Silva. A ex-senadora estava sumida do mapa, apareceu aos 40 minutos do segundo tempo e quer ser dona do jogo e da bola. E muita gente cai na sua  ladainha santuarista e retrógrada.

A defesa da soberania nacional, do meio ambiente e da produção agrícola brasileira é estratégica para o Brasil. Interesses econômicos e concorrência internacional procuram insuflar corações e mentes contra a atualização do Código Florestal. Muita gente de boa fé, como as minhas amigas já referidas, embarca nessa.