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Ciro Gomes é um político experiente. Já foi deputado estadual, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará, ministro da Fazenda do Governo Itamar Franco, ministro da Integração Nacional do primeiro mandato do governo Lula e duas vezes candidato à presidência da República. Hoje é deputado federal, eleito com os votos de 16% dos cearenses, a maior votação proporcional da história do Brasil.
É famoso por ter uma língua ferina. Fala duas vezes antes de pensar. Mas sua fala contra o PCdoB incomodou, e muito! Primeiro por que a crítica feita ao partido é descabida, fruto talvez do isolamento político a que ele próprio está se condenando. Segundo, é uma crítica desleal, já que o PCdoB, nesses últimos anos, tem apoiado Ciro Gomes em quase todas as oportunidades.
Neste último período, para dar um exemplo, o PCdoB esteve na linha de frente na articulação de uma ampla coalizão partidária para lançar Ciro Gomes como o candidato de oposição ao governo de São Paulo. Provavelmente o empenho do PCdob terá sido maior do que o próprio partido do deputado.
No entanto, com exceção do governador mineiro, o preferido de Ciro para a disputa presidencial, ninguém escapa das críticas do deputado. Pode-se dizer, hoje, que o socialista Ciro Gomes reza pela mesma cartilha do tucano e neoliberal Aécio Neves, figura a quem ele não economiza elogios e sucessivas juras de respeito, admiração e fidelidade.
Óbvio que é um direito do deputado cearense optar pela carreira solo, desdenhar os seus aliados e falar o que lhe der na telha. Com essa característica e esses procedimentos, certamente ele está coberto de razão ao dizer que não tem "vocação para ser PCdoB".
Em matéria de partido político, o deputado já está, pelo menos, em sua sexta tentativa de achar a vocação. Sua militância heterodoxa e cambiante înclui a direita (Arena e PDS), o PMDB, que hoje ele tanto critica, o PSDB do seu desafeto José Serra, o PPS e, agora, o PSB, partido pelo qual postula a presidência.
Haverá a terceira margem do rio? Para viabilizar suas ambições presidenciais, Ciro precisa desmontar um cenário em consolidação de eleição plebiscitária. Essa é a única motivação para suas críticas à ampla coalizão partidária em torno da pré-candidata Dilma. O resto são palavras, palavras, palavras...