terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Deseconomia de escala: dois exemplos

1. A indústria automobilística, para usar um surrado chavão, é um dos carros-chefes da economia. Quando pintou a crise,  adotou-se medidas para estimular a venda de carros. Diminuição de tributos, facilidades creditícas e por aí vai. É o tal remédio na veia, o efeito é imediato.

A venda bate recordes e toda a imensa cadeia produtiva se refestela em lucros. Esse é o lado defensável das medidas de estímulo a esse segmento industrial. Mas tem dois efeitos colaterais perversos que colocam em xeque essa política. O primeiro deles é que nossas ruas, avenidas e viadutos estão entupidos e o trânsito não anda. O segundo é que os automóveis e outros veículos são grandes poluidores.

Parece  óbvio que a saída é uma total inversão de prioridades, com ênfase no transporte coletivo, em especial trens e metrô, meios de locomoção rápidos e  não poluentes, uma solução tão racional quanto improvável no futuro imediato.

2. Às sete e quinze da manhã desta terça-feira peguei um táxi no Bairro do Limão, zona noroeste de São Paulo, para ir até Pinheiros, zona oeste. Uma hora e meia depois, taxímetro marcando R$ 39,00, o carro andou menos de dois quilômetros e eu não consegui sair do bairro. Desisiti e voltei a pé para casa, com minha filha (que também não foi trabalhar de manhã). Perder dinheiro, tempo e a paciência não chega a ser uma quebra de rotina. Depois do almoço tentarei chegar ao destino, se as águas deixarem...

Tudo porque a Marginal transbordou e ninguém conseguia atravessar o Rio Tietê. É o enredo de sempre: São Paulo tem três rios principais: Tietê, Pinheiros e Tamanduateí, todos eles confinados por vias "expressas", ocupando o espaço que seria das águas. Quando chove, o leito dos rios não suporta o volume de água, que escoa para as marginais.

 Os especialistas afirmam que a impermeabilização do solo urbano, o assoreamento dos rios e córregos, a ocupação desregrada das margens dos rios são causas de todas as enchentes da capital paulista. As autoridades nada fazem para reverter esse conjunto de fatores. No mais das vezes, concorrem para a piora do quadro.

Um exemplo disso: o governador José Serra e o Prefeito Kassab estão ampliando o ataque ao Rio Tietê, com a construção de mais mais faixas na Marginal. Como o transporte individual parece ser uma paranoia, a população custa a perceber que a ampliação da Marginal Tietê agrava a já precária drenagem urbana paulistana, não resolve os problemas de trânsito e potencializa os riscos de novas e maiores  enchentes na cidade.

No fundo, o que o Serra e o Kassab querem é criar factóides para a demagogia eleitoral. Preferem o foguetorio das inaugurações. Quando a tragédia vem, culpam São Pedro, nunca choveu tanto, dizem. É o papo de hoje em São Paulo. A maior cidade do país está literalmente parada, milhões de reais de prejuízos são contabilizados e as  macabras estatísticas de gente pobre morrendo soterrada não param de crescer.

Os economistas chamam isso de deseconomia de escala.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Os Salários e o novo projeto nacional de desenvolvimento

O Dieese apresentou um interessante documento  sobre o 13º salário no Brasil. O estudo desse material (disponível no endereço www.dieese.org.br),  permite uma boa avaliação sobre o mercado de trabalho e o perfil da renda dos trabalhadores e aposentados brasileiros.

Por esse estudo, o 13º salário injeta  R$ 84,8 bilhões (2,8% do PIB) no mercado, beneficiando quase 70 milhões de pessoas. Todo esse dinheiro se volta para o mercado interno, aquece a economia pela via do aumento da demanda, ou o consumo das famílias, como gostam de falar os economistas.

Esse universo de beneficiários é assim distribuído:

a) 26,8 milhões  de  aposentados e pensionistas do INSS (38,3%)  recebem R$ 17,1 bilhões;

b) 40,4 milhões de assalariados do setor público e privado (57,7%) recebem R$ 57,6 bilhões;

c) 1,8 milhões de empregados domésticos (2,5%)  recebem %$ 996,5 milhões;

d) 983,9 milhões de aposentados da União (1,4%) recebem R$ 4,8 bilhões, e

e) Aposentados dos estados (quantidade não disponível) recebem R$ 4,4 bilhões.

O valor médio do 13º salário é de R$ 1.390,00. Para comparação, o Dieese calcula, com base no mês de novembro, que o salário mínimo necessário de uma família de quatro pessoas, para cumprir o que diz a Constituição, deveria ser de R$ 2.139,06 (o salário mínimo nominal, no Brasil, é de R$ 465,00).

Os empregados formais, baseados na atividade econômica,  são assim distribuídos:

a) indústria: 7.958.831 (19,7%);


b) Construção Civil: 2.098.800 (5,2%);


c) Comércio: 7.425.580 (18,4%);


d) Serviços (incluindo administração pública): 21.340.799 (52,9%);


e) Agropecuária, pesca e correlatos: 1.550.144 (13,8%).



Esses números mostram a importância de uma política permanente de valorização do salário mínimo. De um universo de 70 milhões de assalariados e aposentados no Brasil, 43,4 milhões recebem até um salário mínimo. Como de 2003 a 2009 o salário mínimo teve um aumento real de 44,95%, o impacto positivo favorece a maioria e acaba ajudando todas as faixas salariais.

No entanto, ainda é baixo o salário pago no Brasil. O salário mínimo necessário do Dieese (R$ 2.139,06) está acima até do salário médio praticado no país. O  incremento salarial, embora positivo nesse último período, ainda não consegue acompanhar os ganhos de produtividade da economia.

O resultado mais visível disso é que a participação relativa do trabalho na renda nacional, em geral, é decrescente.  Esse é um dos principais indicadores da desigualdade social e um dos entraves estruturais a ser superado no Brasil.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a esse respeito, afirma "que para haver melhora geral na distribuição da renda nacional torna-se necessário que o aumento do peso relativo da parcela do trabalho na renda nacional (repartição funcional) ocorra simultaneamente à redução da desigualdade na repartição pessoal da renda do trabalho".

Traduzindo para o Português: a turma do andar de baixo precisa superar dois desafios: 1) aumentar a renda do trabalho diante do capital e 2) diminuir a distância entre a base e o pico da pirâmide salarial.

Um novo projeto nacional de desenvolvimento precisa colocar no topo da agenda o aumento da participação da renda dos trabalhadores na distribuição funcional da renda nacional.

Fla, Flu, Bota e Vasco: é só alegria no Rio!

Em uma certa fase do Brasileirão, parecia que o futebol carioca flertava com a catástrofe. O Flamengo não estava entre os dez mais bem colocados, Botafogo e Fluminense na zona da degola e o Vasco não tinha assegurado o seu retorno à elite do futebol.

De repente, não mais do que de repente, os primeiros colocados, com o destaque negativo do Palmeiras, começaram a perder posições. Devagar, devagar bem devagarinho, o Flamengo foi chegando lá e acabou campeão.

Na reta final o Botafogo e o Fluminense se safaram da degola. A reação do Fluminense foi sensacional. O artilheiro Fred comparou a fuga do rebaixamento com a conquista de um título, no que ele tem razão. O segundo turno do Flu foi épico. E o Vasco velho de guerra foi campeão da Segundona.

Resumo da ópera: neste Brasileirão, o que faltou de futebol sobrou de emoção. E os pontos corridos ganharam do mata-mata em todos os quesitos.