quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Grande Batalha Eleitoral de São Paulo

A cidade de São Paulo tem cerca de onze milhões de habitantes, um PIB maior do que o do Estado de Minas Gerais e de países como Israel, Egito ou Chile. Se fosse um país, a capital paulista seria o quinto  PIB da   América do Sul. A força econômica é a base sobre a qual se ergue o poderio político da cidade.

O eleitorado paulistano alcançou, em janeiro deste ano, exatos 8.503.508 eleitores, distribuídos em 58 zonas eleitorais e 1.975 locais de votação, segundo dados do TSE. Esses números falam por si: as eleições de São Paulo tem importância nacional.

Nas eleições passadas, o atual prefeito Gilberto Kassab obteve, no segundo turno, 60,72% dos votos, derrotando Marta Suplicy, que amargou uma votação de 39,28%. Nas últimas eleições presidenciais e para o governo de São Paulo, o PSDB também foi vitorioso na Capital.

Quem se der ao trabalho de estudar o mapa eleitoral paulistano, perceberá que o chamado voto conservador se expande da região central e dos bairros mais ricos e já chega aos bairros de periferia. No contrafluxo, cada vez os votos de esquerda se concentram nas franjas periféricas da cidade.

Em condições normais de temperatura e pressão, a tendência natural seria a reedição do velho filme eleitoral em São Paulo: uma polarização de dois campos, um liderado pelo PSDB e outro pelo PT, com o franco favoritismo dos tucanos.

Mas, como tudo na vida, a situação política de São Paulo também sofre mudanças significativas. Saber analisá-las com precisão e agir em função delas são condições necessárias para reverter o quadro de hegemonia conservadora na cidade.

Três mudanças mais salientes se destacam:

1) A criação do PSD, presidido pelo prefeito Kassab, fraturando o DEM e esgarçando a aliança deste partido com o PSDB;

2) O aprofundamento das disputas entre os grupos de Alckmin e Serra dentro do PSDB;

3) A popularidade crescente de Dilma em São Paulo, superando até a avaliação do governo estadual.

A presença do PSD no cenário político favoreceu o campo político do governo Dilma. Se, como dizem os chineses, devemos procurar a verdade nos fatos, praticamente todos os fatos políticos substantivos apontam nessa direção.

Em primeiro lugar, o PSD no Congresso Nacional não compõe com a oposição e até admite participar de algum Ministério. Esse deslocamento de forças no parlamento é um trunfo adicional para favorecer o governo e fragilizar ainda mais a oposição.

Em segundo lugar, há acordos políticos firmados em diversas cidades onde o PSD se alinha com partidos da base do governo Dilma. Na Grande São Paulo, para citar exemplos emblemáticos, o PSD apoia o PT em pelo menos três cidades estratégicas: São Bernardo do Campo, Guarulhos e Osasco.

Outro fator de mudança é a desgastante guerra de guerrilhas entre Alckmin e Serra. Qualquer observador arguto da cena política paulistana trabalha com essa variável. Saber explorar as contradições no campo adversário é o ABC de qualquer militante político.

Esse quadro complexo, contraditório e em evolução, já deu um alento novo para as forças de oposição. Ao se analisar friamente o quadro pré-eleitoral, ninguém pode considerar, nas condições de hoje, que haja qualquer candidato favorito.

O frisson nas hostes situacionistas atingiu uma escala tão grande que houve uma repactuação política, envolvendo Alckmin e Kassab, em torno do nome do eterno candidato a tudo, José Serra. Com forte apoio midiático, o lançamento de sua pré-candidatura, no entanto, já esbarra em dificuldades.

A primeira delas é que seu nome, mesmo sendo o mais forte do PSDB, não é uma candidatura de consenso. Até agora, pelo menos, estão mantidas as prévias do Partido e dois candidatos se recusaram a abandonar a disputa.

Outra notícia ruim foi a divulgação de uma informação, atribuída ao Kassab, segundo a qual Serra teria dito a interlocutores que sairia do PSDB se vencesse as eleições para a prefeitura. Essa notícia, em meio ao lançamento de sua candidatura, é a famosa jogada de água no chope dos tucanos.

Se o poleiro tucano não vai bem das pernas, o campo de oposição, diferentemente das eleições anteriores, tende a lançar diversas candidaturas, com o compromisso de se unificarem no segundo turno.


O PCdoB trabalha a candidadura do vereador Netinho de Paula (na foto com o presidente do Partido, Renato Rabelo) e uma chapa vereadores mais forte do que as anteriores. Nas pesquisas divulgadas o nome de Netinho já aparece com força.

Essa situação positiva para o PCdoB paulistano não é produto do acaso. O Partido atravessa uma fase de expansão, atrai lideranças populares representativas e, mais do que tudo, tem sabido atuar com sabedoria e explorado as possibilidades políticas de maior presença política na cidade.

Dois exemplos importantes: a conquista de um mandato como 1º secretário da Mesa da Câmara Municipal, com o vereador Netinho,  e a participação em Secretaria Municipal (Secopa), responsável pela organização da Copa do Mundo na cidade que vai sediar a abertura desse evento.

Por último, os candidatos do campo do governo Dilma (além do próprio Netinho, há os nomes de Haddad, do PT, Chalita, do PMDB, Paulinho, do PDT, e Russomano, do PRB, entre outros)  devem levar a eleição para o segundo turno, unificando-se em uma campanha de oposição aos tucanos.

Muita água ainda vai passar debaixo da ponte, e as eleições de São Paulo sempre despertam muitas paixões e afetam o mapa político nacional. A novidade é que o jogo está embolado e os tucanos já não podem cantar de galos. Não são os favoritos. Pode ser pouco, mas já é uma grande notícia!