quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Dilma e os Democratas de Fachada

Dia 3 de outubro se aproxima e Dilma Rousseff se qualifica para receber uma consagradora votação. Tudo caminha para sua vitória no primeiro turno. Reagindo a isso, só se ouve o delírio da mídia, reverberado pelos tucanos, na vã tentativa de adulterar a realidade. Para os conservadores, a grande vitória da coligação "Para o Brasil Seguir Mudando" é um perigo para a democracia... Parece piada, mas é sério.

Primeiro, eles disseram temer a "mexicanização" do processo político brasileiro. Uma comparação absurda, já que Dilma é apoiada formalmente por dez partidos e o candidato a vice-presidente é Michel Temer, do PMDB. Nada semelhante com o quadro partidário que durante décadas vigorou no México. De tão furada, a analogia foi parar na lata do lixo.

Depois de derrotada a tese da mexicanização, surgem novas elocubrações fantasiosas. Esses novos direitistas travestidos de democratas dizem que o Brasil corre o risco de se meter em uma aventura "chavista", opinião preconceituosa contra o processo mudancista em curso na vizinha Venezuela. É uma ameaça à democracia brasileira, vociferam, seguir o mesmo caminho de Hugo Chávez!

Mas, fica a pergunta: o que ameaça mesmo a democracia brasileira? Esses vetustos senhores, políticos sabichões, consideram que a surra eleitoral que se prenuncia no horizonte, expressão da vontade popular, conspurca as regras do jogo democrático. Ôpa, pensar assim é flertar com o golpismo e alimentar a intolerância diante da manifestação majoritária dos eleitores.

O que os tucanos e seus aliados temem mesmo é o conjunto da obra. Além da vitória de Dilma, a coligação "Para o Brasil Continuar Mudando" deve ter maioria no Congresso e eleger boa parte dos governadores. Enquanto isso, a oposição se prepara para sair esfacelada das eleições.

Um dos líderes do DEM, o ex-governador paulista Cláudio Lembo, já prevê a derrocada eleitoral da oposição conservadora. Para ele, o que causa intranquilidade política no país é a mídia brasileira. Partidarizada, segundo ele,  passou a apoiar abertamente a morimbunda candidaduta de José Serra.

Era tudo o que eles não queriam ouvir. Da boca do nosso conservador sincero e de fino trato, Cláudio Lembo, surgiu, em poucas palavras, umas verdades inconvenientes. Lembo pôs o dedo na ferida. Para ele, nessas eleições ganha o povo e Lula se fortalece ainda mais. E os grandes derrotados são os partidos conservadores e a mídia. Bem simples assim...

Eleições: muitos candidatos, poucas vagas

O Brasil tem  135.604.041 eleitores aptos a votar. Desse total, 8.007.074 (5,905%)  são analfabetos. Na ponta oposta, um número menor tem formação universitária completa - apenas 5.135.509 (3,787%). O maior contigente é na faixa dos que sabem ler e escrever até o ensino fundamental completo, que totalizam 75.010.348 (55,315%) eleitores.

O estado de São Paulo tem o maior colégio eleitoral do país, com 30.301.398 eleitores, e um nível de escolaridade pouco acima da média nacional. O eleitorado paulista é constituído de 861.337 (2,843%)  de analfabetos, quantidade inferior aos que concluíram o curso superior, que somam  1.659.448 (5,476%). A faixa compreendida entre os que sabem ler e escrever até o ensino fundamental completo correspondem a 14.635.750 (48,301%).

Os dados disponibilizados pelo TSE no dia de hoje (15/9) registram que 22.570 candidatos tiveram seus registros deferidos. São 9 candidatos a presidente, 171 aos governos estaduais, 273 ao senador, 6036 a Câmara Federal, 14.397 as Assembleias Legislativas e 883 à Câmara Distrital.

O estado de São Paulo tem 1.276 candidatos disputando as 70 vagas de deputado federal e 1.976 candidatos atrás das 94 cadeiras da Assembleia Legislativa paulista. Os números mostram que a eleição é um funil muito estreito. Muitos são os chamados, poucos os escolhidos, como se costuma dizer.

Para um candidato ser eleito deputado estadual em São Paulo, por exemplo, ele precisa provar ao eleitor que, numa lista de 1.976 candidatos, ele é a melhor opção. Como são mais de 30 milhões de corações e mentes em disputa, o principal ponto é definir que ideias defender e que público-alvo atacar.

A massa de votos cresce como círculos concêntricos. O núcleo inicial é o mais fácil - filiados ou simpatizantes do partido, familiares e amigos. Depois a tarefa fica mais complexa: é a acirrada busca de apoio entre eleitores da mesma região, dos companheiros de categoria ou profissão, daqueles que compartilham das mesmas ideias políticas, profissionais, esportivas,  religiosas, culturais, etc.

Há as celebridades - radialistas, artistas, esportistas, religiosos ou grandes lideranças políticas - estes buscam o chamado voto de opinião, tendencialmente disperso e espalhado por vários estratos sociais. Há os que segmentam parte do eleitorado - um policial, um médico, um ruralista, um ambientalista, etc.E existem também os que fazem um pouco de tudo e trabalham com a consigna de juntar todos os cacos para ver se forma uma xícara.

O mais trabalhoso, principalmente em grandes conglomerados urbanos, é como aparecer, ser visto, conhecido e reconhecido. Como a maioria está longe de ser um Netinho de Paula da vida, são os milhões de panfletos, céculas, malas-diretas, telemarketing, reuniões, assembleias, festas, festivais, missas, cultos, atividades esportivas, tudo para vender o seu peixe.

Depois dessa massacrante maratona, para usar um candidato a deputado estadual de São Paulo como exemplo, só 4,76% são recompensados com a eleição. Os que são preteridos nas urnas somam 95,24%. Não é mole, não, meus amigos candidatos! Boa sorte a todos vocês!

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Mudanças em Cuba

A mídia faz um verdadeiro carnaval a respeito das mudanças econômicas que serão realizadas em Cuba. O bumbo bateu mais forte a partir da divulgação, depois desmentida, de que Fidel Castro teria dito que o modelo econômico cubano estaria ultrapassado.

Na verdade, o que está em curso, em sua fase preliminar, é um conjunto de medidas para enfrentar desafios urgentes em Cuba. A própria CTC - Central dos Trabalhadores de Cuba - avalia que é necessário avançar na economia, organizar melhor a produção, potencializar as reservas de produtividade e melhorar a disciplina e eficácia do trabalho.

A realização de obra de tal envergadura será complexa e exigirá ampla legitimação política e consenso social. Consta que Cuba teria um milhão de trabalhadores em excesso no setor estatal e empresarial e que só no setor público, a partir do ano que vem, se iniciaria a dispensa de 500 mil trabalhadores.

O compromisso do governo é criar novas formas de relações de trabalho (arrendamento, usufruto, cooperativas, trabalho por conta própria) para realocar os demitidos nessas atividades. "Ninguém ficará entregue à própria sorte", garante Raúl Castro.

Essas reformas no emprego serão graduais e progressivas, mas atingirão todos os setores e ramos da economia. Os salários, por exemplo, obedecerão ao princípio de distribuição socialista segundo o qual o valor do salário será equivalente à quantidade de trabalho realizado, pagamento por resultado.

As mudanças propostas devem elevar a produção e a qualidade dos serviços, reduzir gastos sociais não essenciais e limitar os subsídios e as gratuidades. É mais uma grande tarefa para uma Revolução que já dura 52 anos!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

A disputa pelo Senado em SP

Netinho de Paula (PCdoB), Marta Suplicy (PT), Romeu Tuma (PTB) e Aloysio Nunes (PSDB) são os quatro candidatos mais fortes às duas vagas para o Senado nas eleições de São Paulo. O ex-governador Orestes Quércia, doente, retirou seu nome da disputa.

Os eleitores que se dispunham a sufragar o nome de Quércia parecem não ter uma opção definida e seus votos se distribuem, não se sabe em qual proporção, entre os candidatos remanescentes, jogando mais lenha na fogueira das especulações.

Como toda eleição majoritária, esta também é muito difícil, com um dado enigmático: votar duas vezes para o mesmo cargo ainda não faz parte da cultura política do povo. São infindáveis as teses que procuram captar o sentimento do eleitorado para o primeiro e o para o segundo voto. Especula-se que o primeiro voto é uma certeza e o segundo uma hipótese, mais volátel e sujeito, portanto, a mudanças ao longo da campanha.

Essas dúvidas alimentam estratégias que nem sempre dão bom resultado. A disputa em São Paulo, por exemplo, apresenta nos dias de um hoje um quadro que até algumas semanas atrás não seria considerado plausível. A primeira surpresa é o fato de Dilma ter ultrapassado José Serra no principal reduto do candidato conservador.

É bom que se diga que o alto comando do PSDB pretendia, nas eleições presidenciais em São Paulo, impor uma derrota à candidata  Dilma com, no mínimo, quatro milhões de votos de vantagem. A tendência de derrota de Serra em São Paulo é um torpedo nas pretensões tucanas. Perdendo em SP, a eleição está liquidada, todos sabem disso.

Na esteira da ascensão de Dilma, outro fato importante é que os dois candidatos ao Senado da coligação de esquerda - Netinho e Marta - estão nas primeiras posições. Essa situação, positiva e promissora, parece indicar que a vitória de duas candidaturas de esquerda é plenamente factível, derrubando especulações de que em eleições desse tipo se elege um progressista e um conservador.
A vida vai mostrando que a campanha compartilhada de Netinho e Marta reúne amplas possibilidades de vitória. Romeu Tuma e Aloysio Nunes, cada um por razões próprias, não conseguem empolgar o eleitorado. Principalmente o candidato tucano ao Senado apresenta grandes fragilidades.

Desconhecido dos eleitores - o ex-chefe da Casa Civil atua mais nos bastidores, não é figura com visibilidade - sem propostas inovadoras e sendo membro de uma das facções em declínio do PSDB - o grupo político liderado por Serra - Aloysio faz uma campanha modorrenta, sem eixo e recheada de baixarias que funcionam mais como bumerangue do que como âncora para alavancar sua moribunda candidatura.

Por tudo isso, esses vinte dias finais da campanha podem viabilizar uma situação inédita da história política de São Paulo - a eleição de um senador negro e de uma senadora mulher. Os dois do campo de Dilma! Consolidar e aprofundar esse rumo parece ser o melhor procedimento nesta etapa da campanha.

domingo, 12 de setembro de 2010

A "nova classe média" e as eleições

A Pesquisa Nacional de Análise de Domicílios (PNAD/IBGE) revela um dado importante. A chamada "classe C", ou "nova classe média", passou a ser o segmento majoritário do Brasil e seu poder de consumo ultrapassa ao das chamadas classes A e B.

A "nova classe média", com renda de R$ 1.126,00 a R$ 4.854,00, corresponde a 94,9 milhões de pessoas (50,5% dos brasileiros) e representa 46,24% do poder de compra. As chamadas classes A e B, os ricos tão adorados pelos tucanos, com 20 milhões de pessoas (10,5% da população), tem poder de compra de 44,12%.

 Essa forma de analisar e classificar a sociedade é de interesse, principalmente, dos empresários interessados em captar as mudanças que ocorrem na base da sociedade e em estabelecer novas estratégias para atingir esse robusto mercado consumidor. No entanto, é inegável que também essa situação de "feel good factor" (ou, na linguagem irônica, " se melhorar, estraga")  provoca repercussões políticas.

Empresários de olho gordo na "nova classe média" 


A Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) adota o Critério de Classificação Econômica para estimar o poder de compra das pessoas e das famílias urbanas. Esse divisão, é óbvio, se distingue da análise da sociedade a partir do conceito de classes sociais, tão cara aos marxistas.

O critério de classificação econômica leva em conta a posse de alguns itens (TV em cores, rádio, banheiro, automóvel, empregada mensalista, máquina de lavar, videocassete ou DVD, geladeira e freezer). Esses dados são cruzados com a escolaridade e, a partir daí, as pessoas são classificadas em oito segmentos.

As "classes" recebem denominação alfanumérica a partir da soma dos pontos atingidos. Em 2009, a Abep calculou o percentual da população de cada um dos oito segmentos e sua respectiva renda média familiar ponderada. Os dados abaixo referem-se à classe, à renda média familair e ao peso percentual de cada uma delas.

A1 - R$ 14.550 (0,5%); A2 - R$ 9.850 (4,1%); B1 - R$ 5.350 (9,2%); B2 - R$ 2.950 (19,4%); C1 - R$ 1650 (25,6%); C2 - R$ 1.100 (23,1%); D - R$ 750 (17,1%0; E - R$ 410 (1,1%).

Essa numerolagia toda, que não escapa da atenção dos empresários, também devem merecer novos estudos das forças políticas. A abordagem política desse segmento passa a ser decisiva na luta pela conquista da maioria política e da hegemonia.

A Era Lula, período no qual essas mudanças adquiraram vigor e visibilidade, torna o nosso presidente o principal benefciário dos dividendos políticos dessa pequena "revolução" silenciosa na distribuição de renda do país, que, apesar disso, continua a ser um dos dez mais desiguais do mundo.

As eleições desse ano são emblemáticas. O arrastão que deve levar Dilma à vitória no primeiro turno tem tudo a ver com isso, porque a mobilidade social se realiza junto com um maior equilíbrio regional no crescimento econômico, no qual o nordeste brasileiro é o maior exemplo.

Esse movimento todo pode atingir também as eleições para os governos estaduais, para o senadores e para os deputados. A onda vermelha parece afogar tucanos e demos em todo o país - e esta é a principal explicação para a paranoia desesperada da mídia contra Dilma e seus aliados.

Espera-se que a onda vermelha banhe as águas do Rio Tietê e se consiga em São Paulo o que parecia inimaginável há pouco tempo. Dilma já está na dianteira, Netinho e Marta idem, Mercadante tem chances reais de ir ao 2º turno e nossos deputados federais e estaduais devem se dar bem no defecho na peleja eleitoral.

Nas eleições paulistas, por exemplo, o Jardim Ângela, periferia sul da Capital, fala mais alto do que o nobre Jardim Europa. É a turma do gueto, representada tão bem por Netinho, candidato do PCdoB ao Senado por São Paulo, dando a resposta nas urnas. Ou, na linguagem peculiar, é nóis na fita, mano.