Para cumprir exigências legais, o governador Serra vai renunciar ao governo de São Paulo e preparar sua candidatura presidencial. Contrariando seus correligionários, o tucano paulista retardou ao máximo essa definição.
Pagou um preço alto por isso: Aécio Neves pulou do barco no fim do ano passado e deixou Serra pendurado na brocha. Nesse mesmo período, a pré-candidatura Dilma ganhou apoios e subiu bastante nas pesquisas, estando praticamente empatada com o provável candidado do PSDB.
Mas tragédia pouca é bobagem. O cronograma de conclusão das principais obras do governo paulista está bastante atrasado, sepultando boa parte das inaugurações com as quais Serra pretendia dar um grand finale ao seu mandato.
Não ficarão prontas, por exemplo, todas as novas estações do Metrô prometidas para este ano, o Rodoanel trecho Sul também estourou os prazos e a Marginal do Tietê continua um caos completo.
Tudo isso somado à greve dos professores, dos trabalhadores da saúde e a operação padrão dos delegados de polícia. Essa quantidade imensa de más notícias só não provoca estragos maiores porque o governador tem uma poderosa aliada: a grande imprensa paulista.
Jornalões, revistas, emissoras de rádio e televisão, seja qual for o veículo, eles usam a "máxima Ricupero" de jogar debaixo do tapete as barbeiragens da administração paulista.
Nesse quadro, até a sucessão de Serra, antes considerada jogo de cartas marcadas, agora pode se tornar uma disputa acirrada. A oposição caminha para construir uma ampla unidade e até a prosaica definição de quem será o escolhido de Serra para tentar sucedê-lo ficou para a última hora.
Opiniões, comentários e notas sobre política, sindicalismo, economia, esporte, cultura e temas correlatos.
quarta-feira, 24 de março de 2010
O futebol moleque
Neymar, 18 anos, André, 19, PH Ganso, 20 e Robinho 26 são as estrelas do time sensação deste Campeonato Paulista de 2010. Com um futebol criativo, envolvente e ofensivo, o Santos lidera com facilidade o campeonato e é tachado de favorito ao título pela maioria dos críticos.
O Santos de hoje lembra a poderosa Seleção da Holanda da década de 70 do século passado. Dirigidos por Rinus Michels, os holandeses assombraram o mundo com a tática revolucionária apelidada de carrossel, onde todos os jogadores estavam em todas as posições, num ritmo frenético que foi comparado, devido à cor da camisa, com o famoso filme da época, Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick.
Johann Cruyff, o melhor jogador da história da Holanda, Krol, Neeskens, Rensembrich e outros craques pareciam imbatíveis. Na Copa do Mundo de 1974, por exemplo, a Laranja Mecânica holandesa derrotou cinco seleções (o Brasil, entre elas), empatou uma e perdeu apenas uma, justamente a final para a Alemanha, por 2 a 1.
Na Copa seguinte a Holanda foi, de novo, vice-campeã. Perdeu a final para a Argentina. O maravilhoso futebol holandês não conseguiu, apesar dos espetáculos, conquistar uma única Copa. Temo que algo parecido possa ocorrer aqui. O Santos das grandes goleadas pode morrer na praia, como ocorreu no campeonato passado. E o algoz dos peixeiros pode ser, inclusive, o mesmo. A conferir.
O Santos de hoje lembra a poderosa Seleção da Holanda da década de 70 do século passado. Dirigidos por Rinus Michels, os holandeses assombraram o mundo com a tática revolucionária apelidada de carrossel, onde todos os jogadores estavam em todas as posições, num ritmo frenético que foi comparado, devido à cor da camisa, com o famoso filme da época, Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick.
Johann Cruyff, o melhor jogador da história da Holanda, Krol, Neeskens, Rensembrich e outros craques pareciam imbatíveis. Na Copa do Mundo de 1974, por exemplo, a Laranja Mecânica holandesa derrotou cinco seleções (o Brasil, entre elas), empatou uma e perdeu apenas uma, justamente a final para a Alemanha, por 2 a 1.
Na Copa seguinte a Holanda foi, de novo, vice-campeã. Perdeu a final para a Argentina. O maravilhoso futebol holandês não conseguiu, apesar dos espetáculos, conquistar uma única Copa. Temo que algo parecido possa ocorrer aqui. O Santos das grandes goleadas pode morrer na praia, como ocorreu no campeonato passado. E o algoz dos peixeiros pode ser, inclusive, o mesmo. A conferir.
terça-feira, 23 de março de 2010
Oposição aos tucanos em SP avança!
Os portais de notícia desta tarde de terça-feira, 23, dão conta de que PT, PDT, PCdoB, PRB, PPL e PR selaram um acordo pelo qual todos irão apoiar a candidatura do Senador Aloizio Mercadante para o governo de São Paulo.
Para a disputa das duas vagas ao Senado, os nomes apresentados foram o da ex-prefeita paulistana, Marta Suplicy, e do vereador Netinho de Paula (foto acima). Com isso, a oposição dá um grande passo para montar um palanque forte em São Paulo, com dois grandes objetivos: quebrar a hegemonia tucana no Estado e garantir boa votação para Dilma.
Outros partidos podem somar-se a esse esforço, particularmente o PSB, que, por ora, ainda cogita em ter candidatura própria ao governo.
O PCdoB de São Paulo, que neste domingo realiza uma grande festa na Quadra do Sindicato dos Bancários, está bastante animado. Deverá disputar com chapa própria as eleições para deputado estadual, ter uma chapa forte para deputado federal e um candidato competitivo ao Senado - o Vereador Netinho de Paula, que nas primeiras pesquisas já despontou com preferências variando de 22% a 24%.
Vai rolar a festa dos comunistas de São Paulo. Com entusiasmo e a expectativa de um grande desempenho eleitoral em 2010.
Para a disputa das duas vagas ao Senado, os nomes apresentados foram o da ex-prefeita paulistana, Marta Suplicy, e do vereador Netinho de Paula (foto acima). Com isso, a oposição dá um grande passo para montar um palanque forte em São Paulo, com dois grandes objetivos: quebrar a hegemonia tucana no Estado e garantir boa votação para Dilma.
Outros partidos podem somar-se a esse esforço, particularmente o PSB, que, por ora, ainda cogita em ter candidatura própria ao governo.
O PCdoB de São Paulo, que neste domingo realiza uma grande festa na Quadra do Sindicato dos Bancários, está bastante animado. Deverá disputar com chapa própria as eleições para deputado estadual, ter uma chapa forte para deputado federal e um candidato competitivo ao Senado - o Vereador Netinho de Paula, que nas primeiras pesquisas já despontou com preferências variando de 22% a 24%.
Vai rolar a festa dos comunistas de São Paulo. Com entusiasmo e a expectativa de um grande desempenho eleitoral em 2010.
Prestação de serviço às famílias
No seu livro "Desenvolvimento e Perspectivas Novas para o Brasil" (Cortez Editora, 2010), Marcio Pochmann apresenta uma série de dados estatísticos sobre a realidade econômica e social do país.
Um número chama bastante a atenção. Um terço dos trabalhadores brasileiros, segundo Pochamnn, é prestador de serviço às famílias. Em 2007, esse número totalizava 23,6 milhões de trabalhadores.
Quem são esses cidadãos? São vigia, segurança doméstica, auxiliar de governanta, arrumadeira, cabeleleiro, depilador, motorista doméstico, dama de companhia, monitor, trabalhador doméstico, auxiliar de limpeza, piloto de aeronave e de lancha particular, etc.
Dessa "imensa horda de serviçais", como a eles se refere o livro citado, de 23,6 milhões de trabalhadores, 61% (14,4 milhões) estavam excluídos da atual legislação social e trabalhista. Com carteira assinada, em 2007, apenas 9,3 milhões. Os assalariados eram 17,7 milhões e um quarto trabalhava na condição de autônomo.
A renda média desse povo era 1,7 salário mínimo mensal. Mais da metade (12,1 milhões) recebiam até um salário mínimo. Uma pequena "elite" de 813 mil trabalhadores desse segmento faturava mais de cinco salários mínimos.
Esse pessoal mais bem remunerado exercia atividades de maior especialização. Pilotos de jatinhos, helicópteros e lanchas, administradores de propriedades, "personal trainer e style", damas de companhia, consultorias, etc.
Essa população trabalhadora praticamente não tem sindicato e é influenciada política e ideologicamente pelos seus patrões. Esse é um aspecto não desprezível da gigantesca luta para que os trabalhadores sejam protagonistas de um novo projeto nacional de desenvolvimento que seja socialmente justo e progressivo.
Um número chama bastante a atenção. Um terço dos trabalhadores brasileiros, segundo Pochamnn, é prestador de serviço às famílias. Em 2007, esse número totalizava 23,6 milhões de trabalhadores.
Quem são esses cidadãos? São vigia, segurança doméstica, auxiliar de governanta, arrumadeira, cabeleleiro, depilador, motorista doméstico, dama de companhia, monitor, trabalhador doméstico, auxiliar de limpeza, piloto de aeronave e de lancha particular, etc.
Dessa "imensa horda de serviçais", como a eles se refere o livro citado, de 23,6 milhões de trabalhadores, 61% (14,4 milhões) estavam excluídos da atual legislação social e trabalhista. Com carteira assinada, em 2007, apenas 9,3 milhões. Os assalariados eram 17,7 milhões e um quarto trabalhava na condição de autônomo.
A renda média desse povo era 1,7 salário mínimo mensal. Mais da metade (12,1 milhões) recebiam até um salário mínimo. Uma pequena "elite" de 813 mil trabalhadores desse segmento faturava mais de cinco salários mínimos.
Esse pessoal mais bem remunerado exercia atividades de maior especialização. Pilotos de jatinhos, helicópteros e lanchas, administradores de propriedades, "personal trainer e style", damas de companhia, consultorias, etc.
Essa população trabalhadora praticamente não tem sindicato e é influenciada política e ideologicamente pelos seus patrões. Esse é um aspecto não desprezível da gigantesca luta para que os trabalhadores sejam protagonistas de um novo projeto nacional de desenvolvimento que seja socialmente justo e progressivo.
domingo, 21 de março de 2010
A autocrítica do professor Yoshiaki Nakano
O professor Yoshiaki Nakano é diretor da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, a famosa FGV. Eu o conheci pessoalmente quando ele foi secretário da Fazenda do governo Mário Covas. O programa de governo de Covas se apoiava, segundo ele próprio, em dois pilares: reestruturação do estado e reengenharia financeira.
Reestruturação do estado foi uma expressão pomposa para designar privatização. Com o PED - Programa Estadual de Desestatização - São Paulo terá feito talvez o maior programa de privatização entre todos os estados. As ideias dominantes, na época, eram menos estado e mais mercado.
Reengenharia financeira, na sofisticada retórica do PSDB, era a aplicação de um duro programa de ajuste fiscal. Para equacionar o crescimento geométrico da dívida, o estado de São Paulo firmou um acordo leonino com a União, no período de FHC. Esse acordo incluiu, entre outros pontos, a federalização e posterior privatização do Banespa e um comprometimento anual de 13% da receita do estado para pagamento de débitos com a União.
Tudo isso atendia pelo nome de neoliberalismo, conceito mágico que passou a orientar os governos do PSDB. O professor Yoshiaki Nakano fez parte do núcleo duro do governo Covas e foi corresponsável por essa política que, até hoje, tantos males tem causado ao estado.
Isso tudo faz parte da história. O motivo desse texto, no entanto, é comemorar a autocrítica do professor Nakano, que corajosamente mostra a falência do ideário neoliberal. Os últimos artigos do professor, publicados na "Folha de S. Paulo", merecem ser lidos com atenção.
Neste domingo, 21, por exemplo, Nakano diz, entre outras pérolas:
1. "A grande crise e o colapso do sistema financeiro nos EUA e na Europa, em 2008, tornaram a intervenção maciça do Estado uma necessidade absoluta, marcando o fim dessa ideologia neoliberal".
2. "No Brasil, sabidamente a partir da década de 90 (a Era FHC, acrescentamos), a opinião pública foi dominada pelo pensamento neoliberal. As políticas públicas passaram a ser formuladas com base na perspectiva de que, quanto menos Estado, melhor".
3. "Retirou-se da função-objetivo do Estado a promoção do desenvolvimento econômico e mesmo a geração de emprego. Destruiu-se a capacitação técnica de pensar e planejar a longo prazo e, estrategicamente, o futuro do país".
Apesar de crítico do socialismo e do chamado atraso patrimonialista do Estado, o professor Nakano considera que, "agora, abre-se um período de reflexão sem os mitos e dogmas do livre mercado, que cerceavam o livre pensar, estabeleciam os limites do que pessoas sérias e respeitáveis poderiam falar. Falar em desenvolvimento econômico deixou de ser assunto de economista desocupado, como censurava um ministro do governo anterior". Governo anterior ao atual governo Lula, registre-se.
"Em suma", resume o professor, "o Brasil está se libertando dos grilhões e da cegueira imposta pelo pensamento dominante do último quarto de século. Com isso, caminhamos para maior pragmatismo e convergência de pensamento, com perspectivas de retomarmos o projeto nacional de desenvolvimento, interrompido em 1980."
Das duas, uma: ou o professor Nakano ensaia uma inflexão teórica para nublar as diferenças programáticas e de projetos políticos, agenda central da disputa presidencial deste ano, para descobrir um discurso palatável para a candidatura Serra, ou ele, efetivamente, se reposiciona e rompe com os dogmas tucanos. Neste último caso, terá que embarcar na canoa de Dilma e singrar por mares nunca dantes navegados.
Reestruturação do estado foi uma expressão pomposa para designar privatização. Com o PED - Programa Estadual de Desestatização - São Paulo terá feito talvez o maior programa de privatização entre todos os estados. As ideias dominantes, na época, eram menos estado e mais mercado.
Reengenharia financeira, na sofisticada retórica do PSDB, era a aplicação de um duro programa de ajuste fiscal. Para equacionar o crescimento geométrico da dívida, o estado de São Paulo firmou um acordo leonino com a União, no período de FHC. Esse acordo incluiu, entre outros pontos, a federalização e posterior privatização do Banespa e um comprometimento anual de 13% da receita do estado para pagamento de débitos com a União.
Tudo isso atendia pelo nome de neoliberalismo, conceito mágico que passou a orientar os governos do PSDB. O professor Yoshiaki Nakano fez parte do núcleo duro do governo Covas e foi corresponsável por essa política que, até hoje, tantos males tem causado ao estado.
Isso tudo faz parte da história. O motivo desse texto, no entanto, é comemorar a autocrítica do professor Nakano, que corajosamente mostra a falência do ideário neoliberal. Os últimos artigos do professor, publicados na "Folha de S. Paulo", merecem ser lidos com atenção.
Neste domingo, 21, por exemplo, Nakano diz, entre outras pérolas:
1. "A grande crise e o colapso do sistema financeiro nos EUA e na Europa, em 2008, tornaram a intervenção maciça do Estado uma necessidade absoluta, marcando o fim dessa ideologia neoliberal".
2. "No Brasil, sabidamente a partir da década de 90 (a Era FHC, acrescentamos), a opinião pública foi dominada pelo pensamento neoliberal. As políticas públicas passaram a ser formuladas com base na perspectiva de que, quanto menos Estado, melhor".
3. "Retirou-se da função-objetivo do Estado a promoção do desenvolvimento econômico e mesmo a geração de emprego. Destruiu-se a capacitação técnica de pensar e planejar a longo prazo e, estrategicamente, o futuro do país".
Apesar de crítico do socialismo e do chamado atraso patrimonialista do Estado, o professor Nakano considera que, "agora, abre-se um período de reflexão sem os mitos e dogmas do livre mercado, que cerceavam o livre pensar, estabeleciam os limites do que pessoas sérias e respeitáveis poderiam falar. Falar em desenvolvimento econômico deixou de ser assunto de economista desocupado, como censurava um ministro do governo anterior". Governo anterior ao atual governo Lula, registre-se.
"Em suma", resume o professor, "o Brasil está se libertando dos grilhões e da cegueira imposta pelo pensamento dominante do último quarto de século. Com isso, caminhamos para maior pragmatismo e convergência de pensamento, com perspectivas de retomarmos o projeto nacional de desenvolvimento, interrompido em 1980."
Das duas, uma: ou o professor Nakano ensaia uma inflexão teórica para nublar as diferenças programáticas e de projetos políticos, agenda central da disputa presidencial deste ano, para descobrir um discurso palatável para a candidatura Serra, ou ele, efetivamente, se reposiciona e rompe com os dogmas tucanos. Neste último caso, terá que embarcar na canoa de Dilma e singrar por mares nunca dantes navegados.
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