O professor e pesquisador Márcio Pochmann (Unicamp/Instituto de Economia/Centro de Estudos Sindicais de Economia do Trabalho) atualmente é presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
No Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, ele fez uma palestra baseada no seu novo livro - Desenvolvimento e Perspectivas Novas para o Brasil - Cortez Editora, 2010. O livro trata, como o próprio título sugere, da problemática do desenvolvimento no Brasil.
Em 191 páginas, Pochmann analisa a sociedade agrária no Brasil, a transição para a sociedade urbano-industrial, o ciclo da financeirização e polarização social, a emergência do social-desenvolvimentismo e o desenvolvimento no limiar do século 21.Li o livro e recomendo sua leitura.
Márcio Pochmann fala das mudanças em curso na organização do trabalho e na demografia em nosso país. Disse que a base material do direito do trabalho foi construída para regular o local da atividade laboral.
Ocorre que, em perspectiva, o local de trabalho pode ser qualquer lugar. Essa mudança não é regulada pela legislação, e isso já provoca implicações na ação (ou falta dela) do movimento sindical.
Paralelamente à mudança do local de trabalho, sempre segundo Pochmann, há uma diminuição na taxa de fecundidade das mulheres e o envelhecimento da população. A partir de 2030, segundo ele, a população brasileira começará a diminuir (mulheres terão, em média, 0,7 filho cada uma).
Dois problemas imediatos surgirão: escassez de mão-de-obra no Brasil e problemas previdenciários. A falta de braços deve atrair imigrantes de países como Bolívia, Chile, Paraguai para suprir a demanda.
A proteção da velhice demandará a ampliação da ação do Estado e mudanças no atual sistema previdenciário brasileiro. As famílias, ao contrário do que ocorre hoje, não terão condições de arcar com o ônus de segurar a barra dos seus parentes idosos, que não serão poucos. Em 2030, por exemplo, o Brasil terá cerca de 30 milhões de pessoas com mais de 80 anos!
Outro fenômeno em curso é o vigoroso papel das mulheres no mercado de trabalho. O professor Pochmann lembra que da última metade do século passado até hoje tivemos três revoluções sexuais.
A primeira separou o sexo da reprodução (contraceptivos), a segunda separou o sexo do casamento (novo perfil da mulher moderna) e a terceira, em andamento, separa a reprodução do sexo. A mulher vai escolher quando e como terá filhos!
Fruto dessas três revoluções, somado com a maior escolaridade feminina, o mercado de trabalho será extremamente competitivo do ponto de vista de gênero... e as mulheres vencerão!
O nosso professor acredita que, em breve, as mulheres ocuparão os melhores cargos e, em consequência, os mais remunerados, invertendo o papel dos provedores domésticos.
Nessa linha, ele prevê, as mulheres trabalharão fora e boa parte dos homens terá responsabilidade maior na manutenção da casa e dos filhos... "Lava a louça todo dia, que agonia...", cantarão, insatisfeitos, os marmanjos.
Desenvolvimento e Perspectivas Novas para o Brasil apresenta uma imensa quantidade de indicadores econômicos e sociais que ajudam a compreender as transformações progresssitas no Brasil de Lula.
Ampliou-se consideravelmente a rede de proteção social, depois das décadas perdidas (80 e 90 do século passado) o Brasil retoma a mobilidade social ascedente, e, ao contrário das outras grandes crises do capitalismo, nesta última o Brasil sofreu impacto pequeno no emprego e na renda.
Fico por aqui, não sem antes lembrar que o texto de Pochmann guarda muita coincidência com as formulações programáticas aprovadas pelo PCdoB em seu último congresso.l