Vladimir Acosta (foto) é historiador, filósofo, doutor em Ciências Sociais e professor titular da Universidade Central da Venezuela. Seu livro "Independência e Emancipação - Elites e povo nos processos Independistas hispanoamericanos" , recebeu, por unanimidade, o Prêmio Internacional de Investigação sobre a Emancipação concedido pelo Conselho Diretivo da Fundação Centro de Estudos Latinoamericanos Rómulo Gallegos.
Comprei o livro, impresso agora no mês de julho, em uma feira em frente ao Museu Símon Bolívar, em Caracas. Durante a viagem de volta li quase todas as suas 251 páginas. Recomendo sua leitura para os interessados na lutas emancipatórias do nosso Continente.
No início, o professor Acosta mostra que a independência dos EUA foi rápida, de baixo custo, clara e linear no sentido do capitalismo, sem mudanças sociais, no entanto, para negros e índios.
Além disso, os EUA ampliaram bastante o seu território com áreas antes pertencentes à França, à Espanha e à Inglaterra. Conquistaram também metade do território mexicano e em um século se transformaram em potência mundial.
A independência dos países hispânicos, segundo o professor, seguiu outro itinerário. Não tinha claro o caráter capitalista, teve grande desgaste, com decomposição e fragmentação territorial. Tais países ficaram independentes da Espanha e se tornaram, depois, dependentes da Inglaterra.
O livro contextualiza a situação da Europa, com destaque especialíssimo para o ano de 1808. Nesse ano, a França resolve ocupar Portugal e o rei da Espanha, Fernando VII, permite o trânsito das tropas de Ñapoleão Bonaparte pelo seu país.
Esse fato gerou pelo menos duas consequências:
1) A Família Real portuguesa, aliada e protegida da Inglaterra, transferiu-se para o Brasil de mala e cuia e aproximadamente 20 mil pessoas, fazendo do nosso país a primeira colônia a ser também capital da metrópole; talvez por isso nossa Independência tenha se retardado e assumido outras formas.
2) Napoleão aproveitou a oportunidade e, docemente constrangido, decretou que seu irmão fosse coroado o novo rei da Espanha. Esse fato gerou rebelião do povo espanhol contra o novo rei (crise de 1808 na Espanha), uma das causas, explicará o livro, detonadoras do processo de independência na América hispânica.
De 1808 a 1811, os "criollos" - elite branca nascida na América, se aproveitaram da situação para organizar os movimentos precussores da Independência, organizando as chamadas Juntas Criollas.
As elites criollas queriam se ver livres da Espanha, mas mantendo pardos, negros e índios submissos. Simón Bolívar e Artigas, eles próprios criollos, tinham uma visão mais avançada desse processo.
O professor Vladimir Acosta diz que as elites usam o povo para conquistar a Independência, mas depois submete-os à dominação, agora disfarçada em normas republicanas de igualdade, recriando sob novo marco a maior parte das anteriores formas de exploração.
A luta pela independência hispanoamericano foi um "processo longo, duro, sangrento e conflituoso". Três exemplos: no México houve rebelião popular, derrotada pelo conluio das elites criollas com espanhois. Na Bolívia, luta guerrilheira heróica também foi derrotada. Na Venezuela, guerra civil.
Foi alto o custo para transformar as antigas colônias em novas repúblicas. Estas, dominadas por caudilhos, sempre segundo o livro em tela, que abandonaram os grandes projetos unitários, os projetos da Pátria Grande e Soberana.
O resultado foi a fragmentação em vários países pequenos, isolados uns dos outros por rivalidades mesquinhas e olhos mais voltados para a Europa. Essa situação levou a que essas novas nações fossem submetidas ao neocolonialismo inglês.
Na atualidade a América hispânica comemora o bicentenário da Independência. Para o professor Acosta, com o duplo desafio: concluir o processo de independência e fundir independência com luta das massas por sua emancipação.
Independência, emancipação, justiça, soberania e unidade dos povos do Continente são a base constitutivas da Pátria Grande. O livro conclui com esse chamamento depois de analisar a Independência de todos os países hispânicos, as razões pelas quais eles se fragmentaram territorialmente e procura estabelecer um nexo com a luta contemporanea.
* Obervação: Casa de Rómulo Gallegos ( página: www.celarg.gob.ve e correio eletrônico: publicaciones@celareg.gob.ve)
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sexta-feira, 30 de julho de 2010
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Venezuela e sua revolucáo
A Venezuela comemora o bicentenário de sua Independência, prepara-se para as eleicóes parlamentares de 26 de setembro e enfrenta uma nova ofensiva de provocacáo do governo direititista da Colômbia, Uribe.
Neste sábado, dia 24, celebrou-se o aniversário de Símon Bolívar, principal referência de libertacáo do colonialismo espanhol para a Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Panamá e Peru.
Visitamos a casa onde Bolívar nasceu e um museu anexo. Cinco mil pessoas passaram pelo local no sábado. Objetos pessoais, mobília, pinturas, textos, documentos históricos remanescentes do grande líder latinoamericano compóem o acervo das duas casas.
A comemoracáo do aniversário de Bolívar foi associada ao bicentenário da Independência da Venezuela. Sob a lideranca de Cháves, há um notável esforco para se dar um nexo histórico evolutivo entre a Independência e a Revolucáo Bolivariana em curso. Esse é o sentido das muitas intervervencóes do presidente.
Em meio as celebracóes e a preparacáo das eleicoes, uma provocacáo de Uribe, que tenta passar para a comunidade internacional a fantasiosa versáo de que Chávez seria leniente com a alegada presenca de militantes das Farc na Venezuela.
Tudo isso em meio ao ocaso do governo Uribe, o que levanta a suspeita de tentastiva de interferir no processo eleitoral venezuelano. Quatro milhóes de colombianos vivem na Venezuela. Há aqui quem ache que isso também pode interferir no quadro eleitoral brasileiro (lembrem-se das declaracóes do vice de Serra).
Parece que hà uma clara relacáo de causa e efeito entre as eleicóes na Venezuela, o aumento da presenca militar dos EUA na regiáo (agora tambèm na Costa Rica) e as ameacas de Uribe.
A revolucáo bolivariana, que procura abrir novas vereadas para o povo, também foi impactada pela crise econômica. Um exemplo: o petróleo, que representa 1/3 do PIB do paìs, teve violenta queda nos precos e isso prejudicou a economia do país. Os precos subirem e a situacao està se normaloizando, para desespero dos opositores.
Apesar disso, a Venezuela tem algumas vulnerabilidades. Precisa importar alimentos e o suprimento de energia elétrica tem suas instabilidades (sáo as tais soberanias alimentar e energética). Diminuindo a oferta dos alimentos e com o problema elétrico, o resultado é difícil para qualquer governo: alimento e energia com oferta controlada, além das suspeitas de desabastecimento criminoso.
A principal voz da oposicáo è a mídia. Os chavistas acuasam também setores empresariais, da cúpula da igreja, estudantes, ONGS financaidas do estrangeiro e primncipalmente os EUA, claro.
Mas o que se destaca è a mídia. A guerra midiática aqui é feroz, parece náo haver meio-termo, mas alguns analistas consideram que se o governo enfrenta dificuldades, a oposicáo também náo tem uma lideranca unificada para se colocar como alternativa.
A mobilizacáo do PSUV para as eleicóes é muito forte, e emissoras como a Globovision fazem com que a nossa mídia pareca moderada... Os meios a favor do governo (TVs, jornais, emissoras de rádio, náo tem qualquer paralelo com o Brasil, neste ítem perdemos de goleada.
Sáo impressóes rápidas sobre a conjuntura da Venezuela. Chávez prepara a populacáo para o pior - ataque militar da Colômbia e, como resposta, suspensáo da exportacáo de petróleo para os EUA. A tendência, parece, è que náo se chege a esse extremo: a posse do novo presidente colombiano pode atenuar o atual grau de tensionamento entre os dois países vizinhos.
É a segunda vez que venho aqui (a outra vez faz dois anos) e acho que a sensacáo de relativa melhora é perceptível, mesmo com as sequelas da crise, embora náo disponha de muitos dados para comparar. A fala de Chávez no III Encontr Nossa América é emblemática: ele disse que é mais fácil ir à lua do que construir o socialismo!
Mudando de assunto: visitamos um morro de Caracas (favelas parecidas com as do Rio, pela topografia) com o novo teléferico, vários vagóes com capacidade para oito passageiros cada um, gratuito, que desfila morro acima levando o pováo.
Dá um friozinho na barriga, quem tem vertigem náo pode se aventurar. A viagem dá uma sensacáo - real! - de que você está pendurado no alto e olhando o grande vazio abaixo, sensacáo mais forte, por exemplo, do que o bondinho do páo-de-acúcar no Rio.
Mas é muito mais interessante do que o famoso telefético caraqueño, principal atracáo turìstica da capital venezuelana. Os trenzinhos sobem morro acima, as pessoas chegam perto de sua casa. O impacto urbanístico é bem maior do que os famosos CEUs da periferia de SP implantados durante a gestáo Marta, principalmente porque toda a regiáo central e arredores da cidade veem as máquinas se movimentando morro acima.
No topo dos morros há vistosas plataformas, coisa bastante moderna. Muitos moradores praticamente precisavam ser alpinistas para chegarem em suas residências, agora sobem no badalado "metrocable", aliás construídos por empreiteiras brasileiras. Essas engenhocas poderiam, por exemplo, subir a Rocinha.
O metrô de Caracas é muito barato (pagamos cinquenta centavos a passagem, algo como vinte centavos de reais no Brasil), e vivem lotados. Para encher um tanque de gasolina nos carros o valor fica em mais ou menos R$ 1,00, isso mesmo, um real!
Já os ônibus sáo bastante velhos, caindo aos pedacos, embora também com tarifas baixas. Os táxis náo usam taxímetros, os valores sáo previamente acertados. Os que ficam nos estacionamentos dos hoteis enfiam a faca, mas os da rua sáo baratos. No domingo fomos à La Hatillo, uma cidade parecida com Embu das Artes, regiáo metropolitana de SP.
Lá, além das construcóes históricas, há a venda de artesanatos, roupas, recordacóes da Venezuela, etc. Distante mais ou menos 30 Km do hotel onde estávamos e a tarifa ficou em 70 bolívares, algo como R$ 25,00.
Depois falo mais sobre a semana bolivariana.
Neste sábado, dia 24, celebrou-se o aniversário de Símon Bolívar, principal referência de libertacáo do colonialismo espanhol para a Venezuela, Colômbia, Equador, Bolívia, Panamá e Peru.
Visitamos a casa onde Bolívar nasceu e um museu anexo. Cinco mil pessoas passaram pelo local no sábado. Objetos pessoais, mobília, pinturas, textos, documentos históricos remanescentes do grande líder latinoamericano compóem o acervo das duas casas.
A comemoracáo do aniversário de Bolívar foi associada ao bicentenário da Independência da Venezuela. Sob a lideranca de Cháves, há um notável esforco para se dar um nexo histórico evolutivo entre a Independência e a Revolucáo Bolivariana em curso. Esse é o sentido das muitas intervervencóes do presidente.
Em meio as celebracóes e a preparacáo das eleicoes, uma provocacáo de Uribe, que tenta passar para a comunidade internacional a fantasiosa versáo de que Chávez seria leniente com a alegada presenca de militantes das Farc na Venezuela.
Tudo isso em meio ao ocaso do governo Uribe, o que levanta a suspeita de tentastiva de interferir no processo eleitoral venezuelano. Quatro milhóes de colombianos vivem na Venezuela. Há aqui quem ache que isso também pode interferir no quadro eleitoral brasileiro (lembrem-se das declaracóes do vice de Serra).
Parece que hà uma clara relacáo de causa e efeito entre as eleicóes na Venezuela, o aumento da presenca militar dos EUA na regiáo (agora tambèm na Costa Rica) e as ameacas de Uribe.
A revolucáo bolivariana, que procura abrir novas vereadas para o povo, também foi impactada pela crise econômica. Um exemplo: o petróleo, que representa 1/3 do PIB do paìs, teve violenta queda nos precos e isso prejudicou a economia do país. Os precos subirem e a situacao està se normaloizando, para desespero dos opositores.
Apesar disso, a Venezuela tem algumas vulnerabilidades. Precisa importar alimentos e o suprimento de energia elétrica tem suas instabilidades (sáo as tais soberanias alimentar e energética). Diminuindo a oferta dos alimentos e com o problema elétrico, o resultado é difícil para qualquer governo: alimento e energia com oferta controlada, além das suspeitas de desabastecimento criminoso.
A principal voz da oposicáo è a mídia. Os chavistas acuasam também setores empresariais, da cúpula da igreja, estudantes, ONGS financaidas do estrangeiro e primncipalmente os EUA, claro.
Mas o que se destaca è a mídia. A guerra midiática aqui é feroz, parece náo haver meio-termo, mas alguns analistas consideram que se o governo enfrenta dificuldades, a oposicáo também náo tem uma lideranca unificada para se colocar como alternativa.
A mobilizacáo do PSUV para as eleicóes é muito forte, e emissoras como a Globovision fazem com que a nossa mídia pareca moderada... Os meios a favor do governo (TVs, jornais, emissoras de rádio, náo tem qualquer paralelo com o Brasil, neste ítem perdemos de goleada.
Sáo impressóes rápidas sobre a conjuntura da Venezuela. Chávez prepara a populacáo para o pior - ataque militar da Colômbia e, como resposta, suspensáo da exportacáo de petróleo para os EUA. A tendência, parece, è que náo se chege a esse extremo: a posse do novo presidente colombiano pode atenuar o atual grau de tensionamento entre os dois países vizinhos.
É a segunda vez que venho aqui (a outra vez faz dois anos) e acho que a sensacáo de relativa melhora é perceptível, mesmo com as sequelas da crise, embora náo disponha de muitos dados para comparar. A fala de Chávez no III Encontr Nossa América é emblemática: ele disse que é mais fácil ir à lua do que construir o socialismo!
Mudando de assunto: visitamos um morro de Caracas (favelas parecidas com as do Rio, pela topografia) com o novo teléferico, vários vagóes com capacidade para oito passageiros cada um, gratuito, que desfila morro acima levando o pováo.
Dá um friozinho na barriga, quem tem vertigem náo pode se aventurar. A viagem dá uma sensacáo - real! - de que você está pendurado no alto e olhando o grande vazio abaixo, sensacáo mais forte, por exemplo, do que o bondinho do páo-de-acúcar no Rio.
Mas é muito mais interessante do que o famoso telefético caraqueño, principal atracáo turìstica da capital venezuelana. Os trenzinhos sobem morro acima, as pessoas chegam perto de sua casa. O impacto urbanístico é bem maior do que os famosos CEUs da periferia de SP implantados durante a gestáo Marta, principalmente porque toda a regiáo central e arredores da cidade veem as máquinas se movimentando morro acima.
No topo dos morros há vistosas plataformas, coisa bastante moderna. Muitos moradores praticamente precisavam ser alpinistas para chegarem em suas residências, agora sobem no badalado "metrocable", aliás construídos por empreiteiras brasileiras. Essas engenhocas poderiam, por exemplo, subir a Rocinha.
O metrô de Caracas é muito barato (pagamos cinquenta centavos a passagem, algo como vinte centavos de reais no Brasil), e vivem lotados. Para encher um tanque de gasolina nos carros o valor fica em mais ou menos R$ 1,00, isso mesmo, um real!
Já os ônibus sáo bastante velhos, caindo aos pedacos, embora também com tarifas baixas. Os táxis náo usam taxímetros, os valores sáo previamente acertados. Os que ficam nos estacionamentos dos hoteis enfiam a faca, mas os da rua sáo baratos. No domingo fomos à La Hatillo, uma cidade parecida com Embu das Artes, regiáo metropolitana de SP.
Lá, além das construcóes históricas, há a venda de artesanatos, roupas, recordacóes da Venezuela, etc. Distante mais ou menos 30 Km do hotel onde estávamos e a tarifa ficou em 70 bolívares, algo como R$ 25,00.
Depois falo mais sobre a semana bolivariana.
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