quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Os trabalhadores e o governo Dilma

Dilma Rousseff foi eleita presidente do Brasil com o apoio quase total do movimento sindical. As principais centrais sindicais brasileiras se envolveram na campanha e apenas setores minoritários do sindicalismo se apartaram dessa histórica campanha.

A parcela mais representativa do sindicalismo nacional (CUT, Força Sindical, CTB, Nova Central e CGTB) realizou no estádio do Pacaembu, no dia 1º de junho, uma Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, com 30 mil participantes, e aprovou uma Agenda dos Trabalhadores para o Brasil.

Essa agenda é uma espécie de carta-programa do sindicalismo brasileiro para os próximos anos e serviu de base para justificar e legitimar o apoio majoritário dos trabalhadores brasileiros à continuidade e aprofundamento do ciclo progressista inaugurado pelo presidente Lula.

Um breve balanço do governo Lula demonstra, de forma inquestionável, que os trabalhadores avançaram bastante de 2003 até agora. Além do tratamento democrático e civilizado, ao contrário da repressão que era marca registrada do período neoliberal, há um amplo leque de conquistas que precisam ser valorizadas.

Três exemplos expressivos: a política de valorização permanente do salário mínimo, com impacto imediato para milhões de trabalhadores, aposentados e pensionistas, o aumento de quinze milhões de empregos formais e a criação do crédito consignado.

Essas conquistas, aliadas às políticas de transferência de renda, resultaram objetivamente em melhora das condições de vida e em um forte incremento da capacidade de consumo dos trabalhadores. Com isso se fortaleceu o mercado interno brasileiro, âncora decisiva para garantir o crescimento econômico.

Por essas e outras razões, os trabalhadores comemoraram a vitória de Dilma Rousseff e já se articulam para intervir de forma positiva no próximo período. Há toda uma pauta a ser debatida, como, por exemplo, a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e o fim do fator previdenciário.

De imediato, já está na ordem do dia a definição do valor do salário mínimo para 2011. Como o ano de 2009 foi atípico, com PIB negativo, as centrais sindicais querem negociar com o atual e o futuro governo a concessão de aumento real para o próximo mínimo.

Para além das demandas imediatas, a grande bandeira para os trabalhadores é a defesa do aprofundamento do projeto nacional de desenvolvimento. O desenvolvimento democrático e soberano que os trabalhadores defendem tem como prioridade a valorização do trabalho.

Nesse rumo, é essencial incorporar os ganhos de produtividade ao salário e, desse modo, ampliar a participação do trabalho na renda nacional. Lutar pelo pleno emprego, pela redução da jornada de trabalho, pela manutenção e ampliação dos direitos trabalhistas e previdenciários.

Soma-se a isso a necessidade de se assegurar a plena vigência da liberdade e autonomia sindical, do direito de greve, de organização nos locais de trabalho e de autonomia para a sustentação material das entidades.
A vitória de Dilma, com toda certeza, coloca essa luta em um patamar superior.

 A vitória, no entanto, não foi produto apenas da ação organizada e consciente dos trabalhadores. Amplas e heterogêneas forças políticas e sociais sustentam o novo governo, e cada segmento tem seus interesses próprios no governo.

Para fazer valer seus interesses, os trabalhadores, representados por suas centrais sindicais,  precisam consolidar e avançar em sua unidade, aumentar sua capacidade de mobilização e defender com vigor e independência sua agenda desenvolvimentista, começando pelas reivindicações mais imediatas.

Tais são as tarefas que se avizinham para o próximo período.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Guerra cambial

O presidente Lula e a presidente eleita, Dilma Rousseff, declararam nesta quarta-feira, 3,  que vão à reunião do G-20, na próxima semana, em Seul, para propor medidas contra a guerra cambial em curso no mundo. Para eles, essa é uma disputa entre os EUA e a China que afeta todo o planeta.

Hoje os portais noticiam que o FED, banco central dos EUA, vai comprar US$ 600 bilhões em títulos do Tesouro americano. Serão US$ 75 bilhões por mês, até o segundo trimestre de 2011. O objetivo alegado é o de recuperar a economia americana, hoje amargando 9,6% de desemprego.

Os juros de lá variam de 0% a 0,25%. Com a injeção desses recursos no sistema financeiro (o que torna o dólar mais barato)  a expectativa das autoridades daquele país é estimular o crédito e o consumo. Isso tornaria, adicionalmente, a economia americana mais competitiva - dólares mais baratos facilitam a exportação.

Essas medidas impactam a economia do Brasil. A desvalorização do dólar obriga o país a adotar novas medidas para valorizar o real. Mas o juro aqui é muito alto e atrai dólares. Uma das medidas já foi tomada, durante o processo eleitoral: aumento do IOF de 2% para 4% sobre o capital estrangeiro que entra no país. Mas a entrada de dólares continua.

Essa crise cambial parece derivada da grave crise econômica que atingiu o mundo todo, particularmente os EUA, Europa e o Japão. Há quem acuse a China de vilã, por exercer sua soberania com um regime de câmbio fixo, enquanto outros países, inclusive o Brasil, adota o câmbio flutuante, de acordo com o jogo de mercado.

O fato é que essa matéria complexa - e que inacreditavelmente passou longe do debate eleitoral -  talvez seja um dos mais cabeludos problemas que Dilma enfrentará no início do seu mandato. Eu não sou economista, mas não me esqueço de uma frase, parece que proferida pela famosa Maria Conceição Tavares (ou foi o Mário Henrique Simonsen?) segundo a qual "crise inflacionária aleija e crise cambial mata".

Com a palavra quem manja do assunto!

terça-feira, 2 de novembro de 2010

A mídia e o governo Dilma

A mídia tenta refletir uma imagem pomposa de democracia e de respeito às regras do jogo. Terminadas as eleições, os noticiários de TV e das emissoras de rádio, os jornais e as badaladas revistas semanais buscam, a todo custo, uma imagem, uma entrevista, uma premonição, qualquer coisa para exibir a ungida em tom mais simpático.

Fazem isso para se adaptar à chamada opinião pública majoritária, manter a credibilidade, a audiência, a tiragem, etc. Há diferenciações. Alguns meios são simpáticos à eleita, parecem apostar em uma relação mais amistosa. . Outros, no entanto, tentam fazer crer que, para governar bem, Dilma deve seguir o receituário das forças políticas derrotas. Parece brincadeira, mas não é.

No cipoal de fofocas e meias-informações, começam a dizer que Dilma vai sofrer na tarefa de "acomodar" os interesses da ampla coligação, insinuando que o a administração vai ser loteada e virar um saco de gatos. Melhor seria, por essa visão, perder a eleição, aí não se precisaria montar o governo pluripartidário, plural e heterogêneo.

Ao exagerarem, agora, a força de Lula, tentam transmitir a ideia de que Dilma é fraca, não saberá andar com as próprias pernas e, por isso mesmo, correrá o risco de decepcionar enquanto governante. E já lançam no horizonte político, precocemente, os principais nomes que a oposição trabalha para um distante 2014.

Depois, tentam estabelecer as balizas dentro das quais a nova presidente deve se movimentar. Em primeiríssimo lugar, a garantia da sagrada e absoluta liberdade de imprensa (ou de empresa, como dizem alguns), como se fosse um "recuo". Nessa matéria, a presidente eleita tem tido um discurso coerente desde o início da campanha.

Na ecomonia, tentam puxar o governo para a direita. Austeridade fiscal, contenção de gastos públicos, diminuição do peso e do papel do estado e outras cantilenas, todas elas derrotadas nas urnas, fazem parte do acervo de orientações desses "professores".

No fundo, estão preparando o terreno para exercer o papel de partido de oposição. Se a economia estiver bem, a causa terá sido a obediência ao ideário proposto pela mídia; se sobrevier uma crise, a responsabilidade será da nova governante, por não aplicar ou aplicar com deficiência a cartilha conservadora.

O grande desafio da nova presidente - avançar no sentido de um projeto nacional de desenvolvimento, com democracia, justiça social, soberania e integração solidária principalmente com a América Latina, não fazem parte do repertório midiático. Mas é esse o debate que interessa aos 55 milhões de eleitores de Dilma.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Dilma faz história

Dilma Rousseff foi eleita neste domingo com 55,752 milhões de votos, mais de 12 milhões acima do seu concorrente José Serra. Dilma teve uma votação excepcional no Nordeste, venceu no Sudeste e no Norte do país e foi superada pelo candidato tucano, por pequena margem, nas regiões Sul e Centro-Oeste.

Em seu discurso inaugural, após a vitória, Dilma se revelou uma pessoa franca e ponderada, ampla e disposta a governar sem ressentimentos. Diz que vai priorizar a erradicação da miséria no país. A vitória de Dilma consolida um ciclo inaugurado pelo presidente Lula e abre promissoras perspectivas para o país.


O cara e a cara

Primeira mulher a comandar o Brasil, Dilma teve como principal fiador o presidente Lula, talvez o mais popular da história do país. O amplo apoio partidário e dos movimentos sociais são importantes âncoras para alavancar o novo governo. Ao contrário de Lula, Dilma terá maioria nas duas casas do Congresso Nacional.

Presidente Dilma, boa sorte!

.