sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

1º ano do governo Dilma

Como o ano está próximo do final, vamos praticar o esporte predileto desse período que é passar em revista o que rolou de importante no ano de 2011. Fiquemos no governo Dilma. O balanço do seu primeiro ano de mandato é positivo, sem ser excepcional.

Eleita sob os auspícios da popularidade de Lula, desde o início Dilma tinha um problema essencial a enfrentar: firmar sua autoridade diante de vários cenários: do ministério, em boa medida herdado, da ampla base partidária de sustentação do governo e da sociedade em geral.

Com sua decantada firmeza, Dilma conseguiu transmitir a imagem de domínio das alavancas de comando do país. Os altos índices de popularidade, superiores inclusive ao do governo Lula na comparação do período inicial dos dois governos, parecem atestar um acerto na tática de conquistar credibilidade e apoio.

Os riscos de desgaste com a possibilidade de contágio da crise econômica ainda não surtiram efeito. Em um mundo mergulhado em profunda crise econômica, o país,  mesmo com o PIB zero do terceiro trimestre e a lerdeza das mudanças macroeconômicas, mantém ainda razoáveis indicadores de emprego e renda.

Na área social e trabalhista,  a presidenta manteve, no geral, a política anterior. Nas relações internacionais, uma certa inflexão pragmática não alterou em profundidade a reorientação diplomática do país. O ponto mais polêmico e incerto, no entanto, foi seguir a partitura midiática na degola de ministros.

Vista em seu conjunto, entre altos e baixos, a média é positiva. Mas alguns desafios se colocam para 2012: reforma ministerial, eleições municipais, reativação econômica e definição de uma agenda positiva que não fique refém do roteiro conservador da mídia oligopolizada.

A reforma ministerial terá sentido se der maior coesão ao governo, manter a ampla base política e social de apoio e desvencilhar-se das armadilhas de uma mídia que se pretende partido político de oposição e intérprete da opinião "pública".

Nas eleições municipais, talvez o maior desafio seja conter a gula exlusivista do seu partido e ter postura ampla e democrática com todos os partidos da base. Acumular forças em 2012, sem fraturar a coalisão, é o melhor caminho para chegar bem na foto em 2014.

Dois problemas importantes: avançar no marco regulatório das comunicações brasileiras, garantindo a pluralidade de opinião e a liberdade de expressão dos diversos setores da sociedade - em uma palavra, enfrentar o monopólio midiático do país.

Segundo, definir os marcos de um pacto desenvolvimentista, que liberte o país das amarras do conservadorismo macreconômico e pavimente o caminho para o crescimento sustentado do PIB ancorado na democracia, soberania e progresso social.

Se der conta desses desafios, a nossa presidenta Dilma poderá deixar o Pelé no banco de reservas por mais uma temporada...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Carrossel Catalão

O Estádio Internacional de Yokohama entrará para a história do futebol brasileiro por dois acontecimentos díspares: a conquista do pentacampeonato da seleção brasileira, em junho de 2002, e o massacre que o Barcelona impôs ao Santos na final do Campeonato Mundial de Clubes, em dezembro de 2011.

Os herois de 2002 foram Ronaldo Fenômeno (o principal), Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, o ataque dos 3 R's. Os herois deste domingo foram Messi, Xavi e praticamente toda a equipe catalã. O Santos de Neymar e Ganso sai chamuscado e o badalado Muricy Ramalho vai precisar trabalhar mais e falar menos.

Pep Gardiola, 40 anos, há mais de quatro anos técnico Barcelona, é "discípulo" de Johan Cruyff, atleta considerado o melhor jogador europeu do século XX e, segundo alguns, o terceiro melhor jogador do mundo depois de Pelé e Maradona. Há um nexo histórico entre Cruyff e o Barcelona de Gardiola.

Em 1974, a seleção da Holanda revolucionou os esquemas táticos de futebol com o chamado "Carrossel Holandês", espécie de futebol total onde os jogadores não tinham posições fixas, todos defendiam e todos atacavam com uma incrível troca de passes até o gol adversário.

Rinus Michels, técnico da seleção holandesa, foi o criador do Carrossel que tinha em Cruyff o pivô essencial. Pelo Ajax e outros times, o genial Cruyff conquistou títulos, mas pela seleção holandesa amargou um vice-campeonato mundial (derrotata para a Alemanha  em 1974).

Talvez o atual Barcelona, que já foi dirigido por Cruyff, seja uma evolução do futebol total da Holanda, mas bastante aperfeiçoado. O próprio Guardiola, para ser politicamente correto, diz que se inspira na magia do futebol brasileiro dos tempos de Pelé.

Seja como for, não se tem registro na história do futebol brasileiro, em uma decisão como esta do Mundial de Clubes da Fifa, um caso tão desproporcional de qualidade técnica e tática entre finalistas. O Santos parecia assombrado com o balé do Barcelona em campo.

Não por sacanagem, ao longo da partida até os não-santistas que torciam para o Santos foram enfeitiçados pelo envolvente futebol de Messi e toda a equipe. O resultado elástico, o amplo domínio do jogo e da bola, duas bolas na trave, alguns gols perdidos, um verdadeiro massacre que a todos extasiou.

Fica um alerta. Com a política de exportação precoce de talentos futebolísticos e os esquemas táticos rígidos e defensivos, típicos da escola gaúcha (Felipão, Tite, Mano) e também do próprio Muricy e outros menos badalados, a decantada vantagem comparativa do Brasil parece mais uma memória do passado.

Pode-se falar em ciclos de hegemonia alternados, tudo bem. Mas em todas as Copas e outras competições internacionais, com exceção  da Copa de 1966, na Inglaterra, a seleção e os times brasileiros  sempre foram competitivos e eram respeitados pelos adversários, menos quando derrotados.

A sensação que paira no ar é a Copa de 2014 está muito próxima e talvez o tempo seja pequeno demais para reverter o novo quadro. O perigo mora principalmente na Espanha, atual campeã mundial, ancorada pelo poderoso Barcelona, provavelmente o time mais vencedor da história do futebol mundial .

Por sorte, parte do Barcelona não pode jogar na seleção espanhola, entre eles o maior de todos, o notável Lionel Andrés Messi.  Com 24 anos, o argentino também conhecido como o novo Maradona provou ser o melhor jogador do mundo. Para glória dos catalães e alívio dos outros países, talvez o Barcelona seja superior à própria seleção espanhola!