segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Carrossel Catalão

O Estádio Internacional de Yokohama entrará para a história do futebol brasileiro por dois acontecimentos díspares: a conquista do pentacampeonato da seleção brasileira, em junho de 2002, e o massacre que o Barcelona impôs ao Santos na final do Campeonato Mundial de Clubes, em dezembro de 2011.

Os herois de 2002 foram Ronaldo Fenômeno (o principal), Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, o ataque dos 3 R's. Os herois deste domingo foram Messi, Xavi e praticamente toda a equipe catalã. O Santos de Neymar e Ganso sai chamuscado e o badalado Muricy Ramalho vai precisar trabalhar mais e falar menos.

Pep Gardiola, 40 anos, há mais de quatro anos técnico Barcelona, é "discípulo" de Johan Cruyff, atleta considerado o melhor jogador europeu do século XX e, segundo alguns, o terceiro melhor jogador do mundo depois de Pelé e Maradona. Há um nexo histórico entre Cruyff e o Barcelona de Gardiola.

Em 1974, a seleção da Holanda revolucionou os esquemas táticos de futebol com o chamado "Carrossel Holandês", espécie de futebol total onde os jogadores não tinham posições fixas, todos defendiam e todos atacavam com uma incrível troca de passes até o gol adversário.

Rinus Michels, técnico da seleção holandesa, foi o criador do Carrossel que tinha em Cruyff o pivô essencial. Pelo Ajax e outros times, o genial Cruyff conquistou títulos, mas pela seleção holandesa amargou um vice-campeonato mundial (derrotata para a Alemanha  em 1974).

Talvez o atual Barcelona, que já foi dirigido por Cruyff, seja uma evolução do futebol total da Holanda, mas bastante aperfeiçoado. O próprio Guardiola, para ser politicamente correto, diz que se inspira na magia do futebol brasileiro dos tempos de Pelé.

Seja como for, não se tem registro na história do futebol brasileiro, em uma decisão como esta do Mundial de Clubes da Fifa, um caso tão desproporcional de qualidade técnica e tática entre finalistas. O Santos parecia assombrado com o balé do Barcelona em campo.

Não por sacanagem, ao longo da partida até os não-santistas que torciam para o Santos foram enfeitiçados pelo envolvente futebol de Messi e toda a equipe. O resultado elástico, o amplo domínio do jogo e da bola, duas bolas na trave, alguns gols perdidos, um verdadeiro massacre que a todos extasiou.

Fica um alerta. Com a política de exportação precoce de talentos futebolísticos e os esquemas táticos rígidos e defensivos, típicos da escola gaúcha (Felipão, Tite, Mano) e também do próprio Muricy e outros menos badalados, a decantada vantagem comparativa do Brasil parece mais uma memória do passado.

Pode-se falar em ciclos de hegemonia alternados, tudo bem. Mas em todas as Copas e outras competições internacionais, com exceção  da Copa de 1966, na Inglaterra, a seleção e os times brasileiros  sempre foram competitivos e eram respeitados pelos adversários, menos quando derrotados.

A sensação que paira no ar é a Copa de 2014 está muito próxima e talvez o tempo seja pequeno demais para reverter o novo quadro. O perigo mora principalmente na Espanha, atual campeã mundial, ancorada pelo poderoso Barcelona, provavelmente o time mais vencedor da história do futebol mundial .

Por sorte, parte do Barcelona não pode jogar na seleção espanhola, entre eles o maior de todos, o notável Lionel Andrés Messi.  Com 24 anos, o argentino também conhecido como o novo Maradona provou ser o melhor jogador do mundo. Para glória dos catalães e alívio dos outros países, talvez o Barcelona seja superior à própria seleção espanhola!

Um comentário:

  1. Camarada Nivaldo, seu artigo mexe na ferida. O Brasil precisa rever seus conceitos de futebol urgente. As principais seleções e clubes Europeus estão assimilando a inovação do futebol total da universidade futebolistica do Barça. Estamos ficando anos luz dos caras. O Santos teve o desprazer de ser o sparring que mostrou ao nosso país e América do Sul que Pep Guardióla e seus jogadores encutiram como nenhum outro time o conceito de Michels e Cuyff. Mas o Santos teve o privilégio de receber ao vivo essa aula. Teremos uma idéia do abismo que está o futebol estático daqui e o futebol total da Europa quando começar o campeonato paulista. Veremos todos o que apenas uma aula (ou surra) da universidade do futebol causou no Santos quando estes jogarem o próximo campeonato contra seus principais rivais. O time do Santos está em estado de choque e os torcedores santistas perplexos até agora. Se estes jogadores assimilaram alguma coisa desta surra-aula, cinco por cento só, pode acreditar que muita gente que tá aí tirando uma onda do Santos vai chorar pitangas.

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