sexta-feira, 13 de março de 2009

Mercado de Trabalho

Ontem, o Dieese apresentou um balanço das negociações salariais de 2008 e apontou que 88% dos acordos e convenções coletivas recuperaram, pelo menos, as perdas inflacionárias. Este percentual é igual ao de 2005 e inferior aos anos de 2006 e 2007.

Para os técnicos do Dieese, o último trimestre de 2008 não foi impactado pela crise, na medida em que boa parte das categorias obteve aumento real. Essa é uma face da moeda. Acredito que o Dieese precisa agregar outras variáveis em suas análises, para dar maior consistência aos estudos.

Um exemplo: o IBGE aponta que o nível de emprego na indústria, em janeiro deste ano, recuou 1,3% e a folha de pagamento real caiu 1,2%. A massa salarial, portanto, diminuiu em função do desemprego. Fazer um balanço mais realista, na minha opinião, precisa incorporar a questão do desemprego.

Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), todo mês 1,2 milhão de trabalhadores são demitidos e número semelhante é contratado. Em 2008, houve 14 milhões de demissões no país e a concessão de 6,3 milhões de seguro-desemprego.

A discrepância entre os números tem uma explicação: para a obtenção do seguro-desemprego exige-se seis meses de trabalho, e o benefício só é concedido uma vez a cada 16 meses. O Brasil tem uma rotatividade de trabalho altíssima. Com isso, os ganhos reais de salários podem ser subtraídos pela rotatividade, e isso nem sempre é captado pelo balanço das negociações salariais.

Tudo isso sem contar que os salários perdem a corrida para a elevação do PIB. A economia cresceu nos últimos anos em torno de 5% e os aumentos reais ficam, na maioria das vezes, na faixa até 2%. A manutenção dessa tendência provoca retração do trabalho versus o capital na repartição da renda nacional.

Em sentido inverso, a política de valorização do salário mínimo, que repõe as perdas inflacionárias e acrescenta a elevação do PIB de dois anos atrás, tem, de fato, um poderoso efeito redistributivo de renda, em benefício de milhões de brasileiros. Talvez seja essa a melhor política social do governo, superando até a bolsa-família (mas isso requer maiores estudos para comprovação empírica).

Nenhum comentário:

Postar um comentário