sexta-feira, 15 de maio de 2009

Análise histórica

Há um pensamento atrasado, embalado com falsas cores brilhantes, que faz uma análise derrotista da História do Brasil. A quintessência dessa vertente interpretativa do Brasil é achar que nossa história é uma coleção de derrotas e fracassos, uma eterna manobra das elites dominantes contra um povo explorado e oprimido.



Para dar ares de cientificidade a essa visão conspirativa e ahistórica do país, afirma-se que o Brasil é o país da conciliação e que aqui nestas plagas a palavra ruptura foi riscada do dicionário. Os exemplos pululam: Independência com monarquia e imperador português, Abolição sem reforma agrária e integração social dos negros, República dirigida pelas elites latifundiárias e por aí vai.



Esse raciocínio linear, mesmo dizendo o contrário, apaga o papel do povo na história. Parece um "deja vu", eternos conciliábulos das elites para forjar um país à sua imagem e semelhança.



Digo tudo isso para contestar uma opinião segundo a qual a Abolição da Escravatura foi uma armação escravocrata e a data deveria ser riscada das grandes efemérides nacionais. Uma leitura mais atenta mostrará que o 13 de maio foi o ápice do movimento abolicionista, movimento que incorpora a luta dos sujeitos da escravidão - os escravos - e também uma plêiade de lutadores que, por distintas razões e distintos meios, somaram sua voz e sua luta para dar um fim a esse iníquo modo de produção.



Da forma como enxergo a questão, não vejo contradição entre incorporar o 13 de maio a datas marcantes de nossa história como o 7 de setembro, o 15 de novembro e o 20 de novembro de celebração de Zumbi dos Palmares.



São datas e feitos complementares, todos eles dando um sentido positivo e progressista ao país, da mesma forma como o fim do regime militar, contrariando boa parte das expectativas, se viabilizou em pleno Colégio Eleitoral e o primeiro presidente da República pós-ditadura, por ironia da história, foi nada mais nada menos do que o ex-presidente do PDS, partido de sustentação da ditadura, o Sr. José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mais conhecido como José Sarney.



Rendo, portanto, aqui e agora, meu reconhecimento de que a lei abaixo, de nº 3.353, de 13 de maio de 1888, que declara extinta a escravidão no Brasil, não pode ser considerada uma farsa.



"A PRINCESA IMPERIAL Regente em Nome de Sua Majestade o Imperador o Senhor D. Pedro II, Faz saber a todos os súditos do IMPÉRIO que a Assembléia Geral Decretou e Ela sancionou a Lei seguinte:
Art. 1º - É declarada extinta desde a data desta Lei a escravidão no Brasil.
Art. 2º - Revogam-se as disposições em contrário.



Manda portanto a todas as autoridades a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.
O Secretário de Estado dos Negócios d'Agricultura, Comércio e Obras Públicas e Interino dos Negócios Estrangeiros Bacharel Rodrigo Augusto da Silva do Conselho de Sua Majestade o Imperador, o faça imprimir, publicar e correr.
Dado no Palácio do Rio de Janeiro, em 13 de Maio de 1888 - 67º da Independência e do Império.
Carta de Lei, pela qual Vossa Alteza Imperial manda executar o Decreto da Assembléia Geral, que Houve por bem sancionar declarando extinta a escravidão no Brasil, como nela se declara.
Para Vossa Alteza Imperial ver."

O generoso sangue do grande herói do povo, Zumbi dos Palmares, fertilizou o chão desse imenso país. É dele e de tantos outros lutadores o mérito histórico de enfrentar, resisitir e finalmente superar a escravidão. São elos de uma mesma corrente libertadora que algum dia também porá abaixo a escravidão moderna do trabalho assalariado.

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