Na década de 20 do século passado, jovens oficiais brasileiros, conhecidos como tenentistas, estavam insatisfeitos com o sistema político brasileiro. Talvez não tivessem uma estratégia global de mudanças, mas defendiam, entre outras coisas, o voto secreto, reforma na educação, etc.
Os tenentistas, em diversas oportunidades, e por variados meios, protagonizaram diversas revoltas no país. Em 5 de julho de 1922 houve a Revolta dos 18 do Forte de Copacabana, que acabou derrotada pelo governo central.
Dois anos depois, no mesmo dia 5 de julho, em homenagem aos revoltosos do Forte de Copacabana, houve uma grande movimento liderado por militares em São Paulo. O governo chegou a fugir do Palácio pela ação dos rebeldes, as tropas federais bombardearam São Paulo (talvez o único caso de bombardeio em uma cidade brasileira). "A Longa Noite das Fogueiras", de Domingos Meirelles, faz um substancioso relato desses eventos, tão extraordinários quanto esquecidos pela historiografia oficial.
Vinte e oito dias depois, com mais de 700 mortos, a "Revolta Paulista"foi derrotada e os militares remanescentes se uniram a seus colegas gaúchos e realizaram a mais conhecida das revoltas tenentistas, a Coluna Prestes (1925 a 1927).
Todos esses movimentos são espécie de preparação para uma grande viragem que viria a ocorrer no Brasil com a revolução de 30, liderada por Getúlio Vargas. No seu conjunto, pode ser considerado um movimento renovador do país, um avanço civilizacional, nas palavras do projeto de programa socialista do PCdoB.
Na contramão desses acontecimentos, o estado de São Paulo comemora hoje a chamada "Revolução Constitucionalista de 1932", movimento de oposição à Revolução de 30. Dirigido pelas elites paulistas, esse movimento também foi derrotado, mas, ao contrário dos outros, aqui em São Paulo se procura dar ares de proeza histórica aos acontecimentos daquele ano. Por isso, 9 de Julho é feriado estadual.
O prédio da Assembleia Legislativa de São Paulo se chama Palácio 9 de Julho, uma das principais avenidas de SãoPaulo também se chama 9 de julho, há também uma outra via denominada Avenida 23 de maio que lembra a morte de estudantes paulistas no início do processo de contestação ao governo Vargas.
Ao contrário de boa parte das cidades brasileiras, o nome de Getúlio Vargas é execrado pelas elites paulistas. Não há, como sempre se lembra, nenhuma via pública importante que receba o nome do ex-presidente e chefe da Revolução de 30.
Na base desses processos históricos talvez resida a explicação para uma certa animosidade brasileira contra os paulistas, ou vice-versa. Embora derrotados militar e politicamente, São Paulo acabou se tornando o carro-chefe da economia brasileira, situação que perdura até hoje.
Quem detém as rédeas da economia, cedo ou tarde acaba também adquirindo a hegemonia política, o que ocorre hoje com São Paulo, centro econômico e político do país.
A construção de um Brasil democrático, próspero, harmônico e socialmente justo, precisará superar todas as assimetrias, em particular as desigualdades sociais e regionais. Para isso, a unidade nacional, sua força territorial e populacional, suas imensas riquezas, suas diversidades, tudo será uma âncora estratégica para o nosso bem e não pretextos para falsas dicotomias, para discursos segregacionistas ou separatistas.
Gostei muito do post. Também abordei o assunto ontem, mas sobre outro ponto de vista - o do desconhecimento da data. Na verdade, os paulistas dão as coisas e lugares o nome de 9 de julho, aprovam feriado, mas pouco divulgam o que de fato aconteceu naquele episódio histórico. Assim, boa parte da população que vive na cidade desconhece o que se 'comemora' em 9 de julho, aquele momento vai sendo levado ao esquecimento e junto com ele as lições sobre nossa história.
ResponderExcluirO Altair escreveu sobre o tema tb.
Abs tricolores