domingo, 16 de agosto de 2009

Villaggio Café


Bela Vista (ou Bexiga ou Bixiga) é um charmoso bairro de São Paulo, espremido entre o Centro e a Paulista, entre a Av. 9 de Julho e a Av. Liberdade. Embora eu more do outro lado do Tietê, na Freguesia do Ó, zona noroeste, pode-se dizer que o meu point é o Bexiga.


O Bexiga tem a Escola de Samba Vai-Vai, onde desfilo, a Igreja Achiropira e sua tradicional festa anual no mês de agosto, muitos bares e cantinas. Embora central, assemelha-se a bairros periféricos pela diversidade e quantidade de pessoas, desde a turma do andar de cima até os majoritários, mais humildes.


Uma mistura de negros na Vai-Vai, italianos nas indefectíveis cantinas, nordestinos e seus "bares do Norte", jovens da baixa classe média curtindo suas baladas nas decadentes casas noturnas da 13 de Maio. Tudo isso sem falar na imensa concentração de teatros, do Zé Celso e sua eterna briga com o grupo Sílvio Santos, os teatros alternativos. É o bairro também que sediou ou sedia o PCdoB, a CSC, a UJS, a UBM, a Unegro, a Editora Anita Garibaldi...


Mas o lugar mais balalado de lá, para os que curtem o sossego como um oásis paulistano, é a Praça Don Orione, com sua tradicional feira de antiguidades aos domingos, ladeada por outra feira, mais popular, a do rolo, cantinas famosas como a "La Tavola", uma antiga escadaria que dá acesso a Rua dos Ingleses,museus e lojas de quinquilharias e por aí vai...


Mas a praça Don Orione, por cerca de quinze anos, hospedou a mais intimista casa de MPB de São Paulo, o Villaggio Café. Eu era freguês de carteirinha da Casa. No final das reuniões do CC aos domingos, eu sempre arrastava ou era arrastado para o Villaggio, para tomar uma cerva e ouvir choro, samba, MPB. A bem da verdade, com ou sem reunião, e não só aos domingos, eu sempre ia lá. O Barbosa era uma espécie de divã onde eu curava minhas tensões do cotidiano político e pessoal, com suas tulipas de chope e suas porções de tira-gosto (eu preferia as panquecas).


O tempo passa e as coisas mudam. O Villaggio mudou para o bairro de Pinheiros, para buscar novos nichos de mercado, acredito eu, já que o velho Bexiga anda mal das pernas do ponto de vista do chamado mundo do entretenimento.


Mas eis que hoje eu recebo uma mensagem eletrônica assinada pelo meu amigo ZéLuiz, proprietário do Villagio, dizendo que a Casa, depois de 17 anos, cerca de 300 shows anuais no período, vai fechar as portas.


A Rozana, sua ex-sócia, nossa amiga também, já havia deixado recentemente o empreendimento. Lá permaneceu o eterno Barbosa, garçon, técnico de som e, permitam-me lembrá-los, o verdadeiro cartão-postal do Villagio.


O Zé Luiz informa que dia 29 de agosto será a saideira, o Barbosa será reaproveitado por outro sócio em novo bar a ser inaugurado. Não vou à saideira, pois não sou dado a este tipo de festa que, para mim, parece póstuma. Mas devo passar algum dia desses no Villaggio, para a triste despedida e a sensação de que não só o Villaggio, mas também nós estamos passando.


O fechamento do Villaggio nubla a festa de 40 anos do Portela, comemorado neste último sábado. C'est la vie... "Como tudo na vida,/ O que era doce acabou / Tudo voltou ao seu lugar / Depois que o Villagio passou..."

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