sábado, 19 de dezembro de 2009

Salário mínimo/2010: R$ 510,00!

O salário mínimo previsto para 2010, segundo o relator da proposta orçamentária em debate no Congresso Nacional, é de R$ 510,00, valor que incorpora  a inflação de 2009 + o PIB de 2008 + um arredondamento para cima.

O movimento sindical brasileiro apoia esse aumento e considera a política de valorização permanente do salário mínimo, que deve vigorar até 2023, uma das principais vitórias dos trabalhadores no governo Lula.

Hoje há um certo consenso de que o aumento da massa salarial fortalece o mercado interno e põe em movimento o círculo virtuoso da economia:  mais venda, mais produção, mais emprego e mais salário. O dogma de que salário causa inflação, muito difundido no Brasil em outros tempos, agora não tem espaço no debate nacional.

A política de valorização do salário mínimo, por isso mesmo,  é uma das mais consistentes e estruturantes medidas de distribuição da renda. Um exemplo significativo: entre assalariados e aposentados, cerca de 43 milhões de pessoas são direta e imediatamente favorecidas com esse aumento.

O Brasil enfrentou a crise econômica sem maiores traumas principalmente por que o consumo das famílias, para usar o jargão econômico, se manteve aquecido. Os salários e outras políticas de transferência de renda, ao lado do aumento do crédito e denonerações fiscais, foram iniciativas positivas do governo que ajudaram na travessia desse conturbado período da economia mundial.

Essa avaliação positiva, no entanto,  não pode deixar de lado o secular desafio: o Brasil ainda precisa percorrer um longo caminho para reverter as desigualdades sociais.

Em 2008, dados do Dieese e do MTE contabilizavam que o Brasil possuía uma população  economicamente ativa de 104,6 milhões, cerca de 2/3 da população total do Brasil.

Desse universo, 70 milhões recebem 13º salário, indicador de que estão presentes no mercado formal de trabalho. A outra parte, suponho, deve ter rendimentos não-assalariados ou provenientes da informalidade.

Os números falam por si.  A  pirâmide de distribuição dos rendimentos, apesar dos notáveis avanços no governo Lula,  ainda é  extremamente desigual. O anuário do Dieese/MTE/2008 apresenta os dados referentes ao rendimento da população economicamente ativa por faixas do salário mínimo:

 

Até 1 salário mínimo (SM): 30,9%;


 1 a 2 SM: 29,6%;


 2 a 3 SM: 10,6%;


 3 a 5 SM: 7,4%;


 5 a 10 SM: 6,3%;


10 a 20 SM: 2,2%;


+ 20 SM: 0,8%;


 sem rendimento: 10,8%; sem declarar: 1,3%.


Os indicadores mostram que, em termos absolutos,  85,7 milhões de pessoas economicamente ativas tem rendimentos até três salários mínimos. Principalmente com o aumento do valor real do salário mínimo, milhões de pessoas conseguiram subir alguns degraus na dura luta pela mobilidade social.



Perseverar nos aumentos a partir da base da pirâmide salarial é uma necessidade imperiosa, repercute positivamente em todas as outras faixas salariais e torna menor a grande distância entre o piso e o pico salarial praticados no Brasil.

Ocorre que um fenômeno perverso atua na contramão desse processo, que é a elevada rotatividade do mercado de trabalho brasileiro. A rotatividade é um mecanismo clássico do patronato para demitir trabalhadores e substituí-los por outros com menor remuneração.

Essa deve ser uma das principais causas da lenta alteração na acirrada disputa entre o capital e o trabalho na distribuição funcional da renda. Daí resulta a importância de se implantar legislação que proíba ou limite drasticamente as demissões imotivadas, para que os ganhos salariais não sejam neutralizados.

Paralelamente ao controle da rotatividade do trabalho, o Brasil precisa incorporar milhões de trabalhadores ao mercado formal de trabalho e ao sistema público de previdência social. Tudo somado com a universalização dos serviços públicos essenciais, como saúde e educação.

Esses temas vão ocupar o centro dos debates nas eleições de 2010. Para os trabalhadores, a meta é evitar o retrocesso, manter e aprofundar as mudanças inauguradas pelo governo Lula e abrir novas e melhores perspectivas de desenvolvimento e progresso social ao nosso país.

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