A revista "Época" desta semana, talvez por falta de assunto, volta a bater na tecla de que o Brasil do presidente Lula se tornou uma "república sindicalista". Em matéria de capa, a publicação dos Marinho ressuscita essa tese, cujo pano de fundo é tentar inibir a ação política do sindicalismo neste importante ano de 2010.
Recorde-se que. com argumentos semelhantes, a direita brasileira, na década de 60 do século passado, construiu o discurso para tentar legitimar a derrubada golpista do presidente João Goulart. A pretensão, agora, é irrigar o discurso eleitoral conservador do tucanato.
Apoiando-se em intelectuais ditos de esquerda - aquela esquerda que a direita tanto gosta - "Época" afirma que os sindicalistas formam uma nova classe social que dirige fundos de pensão e empresas estatais. Com isso, influenciam na execução de orçamentos de até R$ 200 bilhões!
Com 60 parlamentares no Congresso Nacional, dois mil cargos de confiança no governo e o controle dos principais fundos de pensão (90% originários da CUT, segundo a revista), esse magote de sindicalistas seriam os cristãos-novos da classse dominante do país.
A fragilidade dos argumentos da revista salta aos olhos. Em primeiro lugar, todos os governantes do país, do presidente da República ao prefeito do menor município, sempre indicaram pessoas de sua confiança para colaborarem na administração. O presidente Lula, obviamente, não iria nomear quadros da oposição para seu governo.
No arraial dos tucanos a coisa funciona do mesmo jeito. O Serra, quando foi prefeito de São Paulo, inundou a prefeitura com ex-prefeitos do interior. A maioria deles nem conhecia a Capital, mas os indicados foram responsáveis pela gestão das sub-prefeituras paulistanas. Nesse caso, claro, a imprensa não deu um pio.
Em segundo lugar, é um grande preconceito achar que a pessoa, por ser sindicalista, não pode ocupar cargos de responsabilidade no governo. Essa visão conservadora quer considerar reserva de mercado das elites o exercício de altas funções públicas. O melhor exemplo para demolir essa tese furada é o Lula, ele próprio um sindicalista , celebrado no mundo todo ao ocupar o mais alto cargo da República.
Por último, a matéria tem claro viés eleitoreiro. A revista tenta passar aos incautos a imagem de que o Brasil do futuro, moderno e mais avançado, precisaria expurgar os trabalhadores dessas funções. Insinua até que esse tema deveria pautar o debate. No fundo, é uma campanha para o voto na oposição neoliberal.
Apesar de todas essas ressalvas, cabe um alerta ao sindicalismo. Independentemente de quem esteja no governo, as organizações sindicais precisam valorizar e preservar sua autonomia na luta em defesa dos interesses dos trabalhadores. Sindicalismo chapa-branca não tem futuro.
A prioridade do movimento sindical é a organização e a luta, essa é uma verdade acaciana. Sem prejuízo disso, é legítimo que líderes sindicais ocupem espaços nos parlamentos e nos governos, para amplificar a demanda dos trabalhadores.
A necessidade de manter a independência do movimento sindical diante dos governos, dos patrões e dos partidos não é sinônimo de abstinência política, como prega a revista. Sindicalista consciente e inteligente sabe que eleger Dilma e derrotar o conservadorismo neoliberal é um imperativo da luta atual dos trabalhadores.
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