sexta-feira, 30 de julho de 2010

Independência e Emancipação

Vladimir Acosta (foto) é historiador, filósofo, doutor em Ciências Sociais e professor titular da Universidade Central da vladimir-acosta5Venezuela. Seu livro "Independência e Emancipação - Elites e povo nos processos Independistas hispanoamericanos" , recebeu, por unanimidade, o Prêmio Internacional de Investigação sobre a Emancipação concedido  pelo Conselho Diretivo da Fundação Centro de Estudos Latinoamericanos Rómulo Gallegos.

Comprei o livro, impresso agora no mês de julho, em uma feira em frente ao Museu Símon Bolívar, em Caracas. Durante a viagem de volta li quase todas as suas 251 páginas. Recomendo sua leitura para os interessados na lutas emancipatórias do nosso Continente. 

No início, o professor Acosta mostra que a independência dos EUA foi rápida, de baixo custo, clara e linear no sentido do capitalismo, sem mudanças sociais, no entanto, para negros e índios.

Além disso, os EUA ampliaram bastante o seu território com áreas antes pertencentes à França, à Espanha e à Inglaterra. Conquistaram também metade do território mexicano e em um século se transformaram em potência mundial.

A independência dos países hispânicos, segundo o professor, seguiu outro itinerário. Não tinha claro o caráter capitalista, teve grande desgaste, com decomposição e fragmentação territorial. Tais países ficaram independentes da Espanha e se tornaram, depois, dependentes da Inglaterra.

O livro contextualiza a situação da Europa, com destaque especialíssimo para o ano de 1808. Nesse ano, a França  resolve ocupar Portugal e o rei da Espanha, Fernando VII, permite o trânsito das tropas de Ñapoleão Bonaparte pelo seu país.

Esse fato gerou pelo menos duas consequências:

1) A Família Real portuguesa, aliada e protegida da Inglaterra, transferiu-se para o Brasil de mala e cuia e aproximadamente 20 mil pessoas, fazendo do nosso país a primeira colônia a ser também capital da metrópole; talvez por isso nossa Independência tenha se retardado e assumido outras formas.

2) Napoleão aproveitou a oportunidade e, docemente constrangido, decretou que seu irmão fosse coroado o novo rei da Espanha. Esse fato gerou rebelião do povo espanhol contra o novo rei (crise de 1808 na Espanha), uma das causas, explicará o livro, detonadoras do processo de independência na América hispânica.

De 1808 a 1811, os "criollos" - elite branca nascida na América, se aproveitaram da situação para organizar os movimentos precussores da Independência, organizando as chamadas Juntas Criollas.

As elites criollas queriam se ver livres da Espanha, mas mantendo pardos, negros e índios submissos. Simón Bolívar e Artigas, eles próprios criollos, tinham uma visão mais avançada desse processo.

O professor Vladimir Acosta diz que as elites usam o povo para conquistar a Independência, mas depois submete-os à dominação, agora disfarçada em normas republicanas de igualdade, recriando sob novo marco a maior parte das anteriores formas de exploração.

A luta pela independência hispanoamericano foi um "processo longo, duro, sangrento e conflituoso". Três exemplos: no México houve rebelião popular, derrotada pelo conluio das elites criollas com espanhois. Na Bolívia, luta guerrilheira heróica também foi derrotada. Na Venezuela, guerra civil.

Foi alto o custo para transformar as antigas colônias em novas repúblicas. Estas, dominadas por caudilhos, sempre segundo o livro em tela, que abandonaram os grandes projetos unitários, os projetos da Pátria Grande e Soberana.

O resultado foi a fragmentação em vários países pequenos, isolados uns dos outros por rivalidades mesquinhas e olhos mais voltados para a Europa. Essa situação levou a que essas novas nações fossem submetidas ao neocolonialismo inglês.

Na atualidade a América hispânica comemora o bicentenário da Independência. Para o professor Acosta, com o duplo desafio: concluir o processo de independência e fundir independência com luta das massas por sua emancipação.

Independência, emancipação, justiça, soberania e unidade dos povos do Continente são a base constitutivas da Pátria Grande. O livro conclui com esse chamamento depois de analisar a Independência de todos os países hispânicos, as razões pelas quais eles se fragmentaram territorialmente e procura estabelecer um nexo com a luta contemporanea.

* Obervação: Casa de Rómulo Gallegos ( página: www.celarg.gob.ve  e correio eletrônico: publicaciones@celareg.gob.ve)

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