domingo, 22 de fevereiro de 2009

Mandela

Hoje, domingo de Carnaval, eu assisti o filme Mandela, em DVD, que traça breve roteiro biográfico de Nelson Mandela e seu relacionamento com o responsável pela prisão onde ele estava. O filme é razoável, embora parta da perspectiva do chefe da polícia incumbido de vigiar Mandela, e não o contrário, como o título do filme sugere.

Considero a história da vida de Mandela uma das maiores epopéias que um homem pode protagonizar. Depois de tantos anos preso, chegar à presidência da República, não é mole, não! É uma figura ímpar, singular, merecedora de todas as homenagens!

Hoje Mandela tem com 90 anos e está no quarto casamento. Nna prisão, o cara ficou, conforme o filme retrata, vinte e um anos sem tocar a esposa, além de não poder assistir o funeral do filho, morto em suspeito acidente de automóvel. Nelson Mandela, depois de tudo, presidiu a África do Sul de 1994 a 1999, liquidando de vez com o apartheid e abrindo caminho para a construção de uma sociedade democrática, entendo-se por democracia a inexistência de leis racistas, liberdade de organização e manifestação do pensamento e outras questões que não chegam a ter a substância de uma democracia verdadeiramente popular.

Em setembro de 2001 conheci a África do Sul. Fiquei uma semana em Durban, cidade litorânea às margens do Oceano Índico, representando a Assembleia Legislativa paulista em um Congresso Mundial contra o Racismo, promovido pela ONU, e participando também de eventos paralelos.

Claro que em encontros dessa natureza não é possível compreender as entranhas que movem o país. No entanto, uma observação forte marcou minha presença lá. Fiquei hospedado a 50 quilômetros do Centro de Convenções onde se realizava o Congresso.

Diariamente eu percorria em uma "Van" o trecho e observava uma série de condomínios fechados, com muralhas e arames farpados a isolá-los do resto da cidade. Nesses condomínios dava para ver mansões, campos de golfe, piscinas ... todo o exagerado conforto de uma minoria rica - e branca - contrastando com a vida difícil da maioria negra e pobre (a diferença é que, com o fim do apartheid, emergiu uma classe média negra, uma minúscula parte alçou até o topo da pirâmide, como, por exempolo, o presidente da South Africa Airlines. Mas o povão negro continua na lona, amargando desemprego e outras chagas do modo capitalista de produção.

A África do Sul, refletindo a herança maldita do apartheid, tem uma alta taxa de HIV soropositivo e a violência urbana - homicícidos, assaltos, estupros - é das maiores do mundo, mesmo sendo o país mais rico da África. A recomendação era expressa para todos os estrangeiros: proibido andar pelas ruas à noite, só de táxi.

A próxima Copa do Mundo será sediada pelo país de Nelson Mandela e será uma oportunidade importante para se conhecer mais e melhor a história desse país de mais de 47 milhões de habitantes, 80% dos quais negros, onze línguas oficiais e uma diversidade sem paralelo na África (lá moram também, além da maioria negra, população de origem europeia e uma importante comunidade indiana).

PS.: Os portugueses também estiveram por lá. Qual não foi a minha surpresa quando, passeando pelas ruas do centro de Durban, vi uma pequena estátua com o busto de Fernando Pessoa, um dos dois maiores poetas portugueses de todos os tempos (o outro, óbvio, era o Camões) com o verso, escrito em inglês:"Oh! mar, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal".

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