Não conheço quem não tenha profunda admiração e respeito pela saga heróica do povo vietnamita. Só nas últimas sete décadas eles derrotaram nada menos do que o colonialismo francês, o invasor japonês e o imperialismo americano, além de rechaçarem uma invasão de 17 dias dos chineses em 1979, episódio que eu não sei as causas de sua deflagração.
Mesmo tendo o país sido arrasado na guerra contra os EUA, encerrada há 46 anos, hoje já nem se vê vestígios da guerra. O Vietnã pulsa e cresce, empreendendo novas jornadas de luta, agora pelo desenvolvimento e progresso social.
Economia de mercado com orientação socialista é o conceito que guia a construção do socialismo naquele país. Um país pequeno e superpovoado não pode abrir mão do crescimento econômico sustentado e duradouro. Para enfrentar esse desafio, o Vietnã adota uma fórmula semelhante a dos chineses: direção política do Partido Comunista, controle estatal dos setores estratégicos e ampla abertura para o mercado em boa parte dos ramos da economia, inclusive para o capital privado internacional.
Isso tem permitido a esse país de clima quente e chuvoso taxas de crescimento econômico acima da média mundial (PIB médio de 2000 a 2005 foi de 7,1%). A economia do país tem 20,9% da produção na agricultura, 41% na indústria e construção e 38,1% nos serviços.
A resolução do X Congresso do Partido Comunista do Vietnã, de abril de 2006, fala que "para avançar até o socialismo, devemos desenvolver uma economia de mercado de orientação socialista; impulsionar a industrialização e a modernização; construir uma cultura avançada imbuída de identidade nacional como base espiritual da sociedade; fortalecer a democracia socialista, implementar a grande unidade nacional; criar um Estado socialista do povo, pelo povo e para o povo; construir um partido são e forte, assegurar a defesa e a segurança nacional e integrar-se ativamente à economia internacional".
O mesmo documento reconhece que "a teoria não tem respondido a certas questões das realidades de renovação e construção do socialismo em nosso país, em particular no ajuste das relações entre as taxas de crescimento e a qualidade do desenvolvimento, entre crescimento econômico e a implementação da justiça social, entre a renovação econômica e a renovação política, entre a renovação, estabilidade e o desenvolvimento; e entre independência, soberania e a integração ativa à economia internacional".
A base teórica do partido é o marxismo-leninismo e o pensamento Ho Chi Minh. O Congresso prognosticou um mundo com tendência maior pela paz, a cooperação e o desenvolvimento, mas vê também "incertezas imprevisíveis".
Onde há economia de mercado há acumulação e distribuição desiguais, prospera o enriquecimento individual e surgem práticas de corrupção, consumismo e carreirismo. Tudo isso é reconhecido pelo PCV e se estuda meios eficazes para acabar ou mitigar esses fatores negativos dentro do partido e na sociedade como um todo.
É um risco calculado. A abertura para o capital é necessária para crescer e para enfrentar as enormes exigências de um país com 84 milhões de habitantes. O crescimento desigual das pessoas e das regiões requererá a permanente ação estatal para recuperar o equilíbrio econômico e a harmonia social.
A derrocada dos países do chamado socialismo real do Leste Europeu colocou para os países socialistas e para os partidos comunistas de todo o mundo a necessidade de desenvolver criativamente a teoria e a prática, repensar modelos, atualizar conceitos.
Tudo isso levando em consideração a realidade mundial e de cada país em particular, a correlação de forças e a necessidade de avançar com os pés no chão e também empreender recuos necessários no terreno econômico. É a dialética da vida.
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