A última edição da revista "Retrato do Brasil" coloca o demônio no meio da procissão. O editorial "No clima do escândalo" polemiza com uma opinião difundida mundo afora segundo a qual as mudanças climáticas poderiam colocar em risco a sobrevivência da humanidade.
A revista de Raimundo Rodrigues Pereira analisa o tema de forma multilateral, levantando questionamentos científicos, políticos e econômicos para esse aparente consenso universal a respeito da matéria.
Afirma a revista: "não existe nenhuma evidência de que a biosfera, o ambiente no qual a espécie humana (e, outrora, seus ancestrais, os hominídeos) vive há milhões de anos, vá sofrer qualquer alteração drástica até o final deste século, mesmo se todos os países mantiverem seus padrões atuais de produção e consumo".
A interpretação do editorial em tela é a de que há interesses políticos e econômicos dos países ricos em fazer do mito da mudança climática uma arma adicional contra os países pobres ou em desenvolvimento.
"Hoje, ao contrário de há um século," acrescenta a revista, "cerca de 90% das reservas de petróleo estão com os países em desenvolvimento. O que se observa atualmente no setor de geração de energia é uma grande corrida dos países que estão na vanguarda da economia global - os países ricos e, destacadamente atrás deles, a China - em busca das tecnologias para uso de fontes alternativas ao carvão e ao petróleo".
Claro que a busca por energias limpas e renováveis é importante para combater a poluição e tornar a vida mais saudável. Mas os países mais pobres, como defende a revista, precisam valorizar as suas reservas para alavancar o seu desenvolvimento.
Os países ricos posam, lembra o editorial, "como os campeões da defesa do meio ambiente, com direito a impor taxas e punições diversas aos produtos dos países emergentes que estariam se tornando os principais poluidores do planeta".
"Retrato do Brasil" avalia que essa opinião é política, motivada por razões econômicas, não científica. Os países ricos, os mesmos que devastaram suas áreas verdes, procuram, a pretexto de combater as mudanças climáticas, impor restrições aos países em desenvolvimento.
O embaixador do Brasil na Organização Mundial do Comércio, Roberto Azevedo, por exemplo, critica os projetos sobre emissão de carbono, em tramitação no Congresso dos Estados Unidos. Segundo ele, esses projetos são "questionáveis" ou até "ilegais" e podem provocar uma guerra comercial.
A revista mostra que, ao fim e ao cabo, a fúria dos terremotos, dos maremotos, das tempestadas, das secas e dos furacões têm suas vítimas preferenciais.
Invariavelmente, quem mais padece são "os mais pobres, os que moram em casas precárias, nas pirambeiras, nas várzeas alagáveis, os que não têm outro lugar para morar, os trabalhadores do campo que sobrevivem de culturas de resistência em terra pouca e ruim, os que já comem pouco num mundo cada vez mais rico".
A luta pelo desenvolvimento precisa estar associada com políticas ambientais equilibradas. Pessoalmente, acho que a opinião da "Retrato do Brasil", neste particular, não colide com a justa tese do desenvolvimento sustentável.
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