De dois em dois anos, repete-se a mesma pergunta: que Brasil emerge das urnas? Claro que nas eleições gerais, onde se elegem os novos presidente, governadores, senadores e deputados, a mudança é mais ampla. Nas eleições municipais, como as deste ano, se faz uma espécie de ensaio geral para a grande batalha de 2014.
Uma curiosidade nas avaliações é a de que todos os partidos, manipulando os resultados de acordo com os seus próprios interesses, se declaram vitoriosos. Esse estranho resultado procura se apoiar ou em número de eleitos e votação obtida ou na "qualidade" das vitórias. Há pratos para todos os gostos e exemplos que respaldam qualquer "tese"...
Dividindo-se ou Brasil em dois grandes blocos, podemos afirmar que os partidos de oposição com representação parlamentar no Brasil são o PSDB, o Dem, o PPS e o Psol. Neste ano, o PSTU conseguiu eleger alguns vereadores. Os demais partidos, com variação de grau, podem ser considerados da "base aliada do governo Dilma".
Pois bem, nessa macrodivisão, a oposição, seja ela conservadora ou dita de "esquerda", obteve algo em torno de 20% dos votos. O campo político vinculado ao governo alcançou, portanto, 80% dos votos. Visto desse ângulo, fica difícil apontar, como alguns próceres tucanos se esforçam para fazê-lo, que a oposição saiu fortalecida do pleito e se coloca como alternativa em 2014.
No arraial situacionista, em princípio portador de 80% dos votos, há muito o que se comemorar - principalmente a espetacular vitória de Fernando Haddad em São Paulo - ainda mais por que a campanha eleitoral foi toda realizada em meio ao mais estridente furor midiático na cobertura da famosa ação penal 470, o conhecido "mensalão".
Ocorre que se procura explorar, para mitigar o impacto da derrota fragorosa da oposição, que o PSB, um importante e bem votado partido da base aliada, teria ensaiado não apenas um plano de voo solo como também estaria flertando com o novo grão-duque da oposição, o senador Aécio Neves, tucano mineiro.
As particularidades municipais das eleições nem sempre refletem o jogo político nacional. Aqui e acolá há coligações híbridas entre partidos que, nacionalmente, se encontram em campos opostos. Apesar disso, chamou atenção a desenvoltura com que o presidente nacional do PSB, o governador Eduardo Campos, compartilhou diversos palanques com os tucanos, ao contrário, para comparar, com os principais líderes do PMDB.
O posicionamento dos socialistas, diante da fragilidade do PSDB e seus aliados, eventualmente pode ser a boia salva-vidas de um projeto eleitoral acalentado pela oposição, que maquina a divisão da base de Dilma. Trazer o PSB para essa empreitada é o sonho de uma noite de verão do tucanato estimulado por boa parte da mídia.
Conseguirão? Alguns dizem que a fila do PT jamais andará a ponto de conceder a cabeça da chapa presidencial para o PSB ou outro partido. Outros vaticinam um futuro incerto para uma candidatura própria do governador pernambucano. Sozinho, imaginam, ele poderá reeditar o sucesso fugaz de outras candidaturas "alternativas" como já foram, no passado, Garotinho, Heloísa Helena e Marina. Quinze segundos de fama e depois o ostracismo político.
Essas abordagens de conveniência perseguem dois objetivos: quebrar a unidade do bloco da Dilma e reforçar a combalida oposição. Essa é a condição necessária, mas não suficiente, para disputar para valer as eleições presidenciais de 2014. Além dessa complexa engenharia política, os caciques do conservadorismo, em meio ao velório do seu quadro maior abatido nas urnas, José Serra, torcem para que a economia, o emprego e a renda tenham indíces sofríveis para dar competitividade à oposição.
A bala de prata do STF não conseguiu, pelo menos nessas eleições, atingir os seus objetivos. O denuncismo udenista, velha arma do arsenal da direita, por si só parece não servir para alavancar o PSDB e quejandos. "Refundar" a oposição, com novas ideias e/ou novos personagens (esse é o debate que rola no poleiro dos tucanos), rachar a base aliada, torcer para o país não avançar - eis a agenda da turma dos 70% de votos na rica zona eleitoral dos Jardins paulistanos e menos de 15% na periférica Parelheiros (para citar como exemplo os resultados Serra em São Paulo)
Opiniões, comentários e notas sobre política, sindicalismo, economia, esporte, cultura e temas correlatos.
sexta-feira, 2 de novembro de 2012
terça-feira, 23 de outubro de 2012
Eleições: momentos decisivos
Neste domingo, dia 28 de outubro, será realizado o segundo turno das eleições municipais. A batalha mais importante, pelo peso político da cidade, é a de São Paulo. Fernando Haddad e sua vice-prefeita Nádia Campeão, a confirmar o que as pesquisas indicam, são os favoritos.
Em Salvador e Fortaleza, ao que tudo indica, as eleições serão mais disputadas. Para o PCdoB, Manaus é uma batalha muito difícil, mas em Jundiaí e em Contagem, dois municípios importantes do interior de São Paulo e de Minas Gerais, parecem apontar para vitórias comunistas.
As eleições são municipais, mas nas capitais e nos municípios mais importantes há uma confluência de interesses locais em disputa com a chamada nacionalização do debate político. Mas cada município tem sua particularidade. Em Campinas, por exemplo, o PCdoB está coligado com o PSB e enfrenta o PT, o que tem provocado ruídos com os petistas. Algo próximo ao que ocorre em Fortaleza.
Seja como for, os resultados das eleições deverão apontar um quadro bastante positivo para o campo do governo Dilma e uma derrota de razoável proporção para o PSDB e o DEM, os dois principais partidos de oposição conservadora no país. Essa tendência tende a se aprofundar no domingo. Lula, que na reta final jogou pesado, sairá com um saldo alto.
Em São Paulo, alguns acordes dissonantes merecem registro. O apoio de Paulinho ao Serra ficou mal na foto, o destempero verbal da Soninha mostra que ela é imatura e transita na contramão da política. O pior ficou para o ex-candidato a presidente da República pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, que em sintomática entrevista disse preferir o Serra ao Haddad no segundo turno.
Uma questão que deverá merecer análise pós-eleitoral é que o furor midiático de boa parte da mídia contra os candidatos da base aliada do governo Dilma, e a espetacularização do julgamento do chamado "mensalão" no STF não produziram impactos de maior monta no processo eleitoral.
Em Salvador e Fortaleza, ao que tudo indica, as eleições serão mais disputadas. Para o PCdoB, Manaus é uma batalha muito difícil, mas em Jundiaí e em Contagem, dois municípios importantes do interior de São Paulo e de Minas Gerais, parecem apontar para vitórias comunistas.
As eleições são municipais, mas nas capitais e nos municípios mais importantes há uma confluência de interesses locais em disputa com a chamada nacionalização do debate político. Mas cada município tem sua particularidade. Em Campinas, por exemplo, o PCdoB está coligado com o PSB e enfrenta o PT, o que tem provocado ruídos com os petistas. Algo próximo ao que ocorre em Fortaleza.
Seja como for, os resultados das eleições deverão apontar um quadro bastante positivo para o campo do governo Dilma e uma derrota de razoável proporção para o PSDB e o DEM, os dois principais partidos de oposição conservadora no país. Essa tendência tende a se aprofundar no domingo. Lula, que na reta final jogou pesado, sairá com um saldo alto.
Em São Paulo, alguns acordes dissonantes merecem registro. O apoio de Paulinho ao Serra ficou mal na foto, o destempero verbal da Soninha mostra que ela é imatura e transita na contramão da política. O pior ficou para o ex-candidato a presidente da República pelo PSOL, Plínio de Arruda Sampaio, que em sintomática entrevista disse preferir o Serra ao Haddad no segundo turno.
Uma questão que deverá merecer análise pós-eleitoral é que o furor midiático de boa parte da mídia contra os candidatos da base aliada do governo Dilma, e a espetacularização do julgamento do chamado "mensalão" no STF não produziram impactos de maior monta no processo eleitoral.
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Fernando Haddad dispara na liderança
As pesquisas do Ibope e do Datafolha coincidem em registrar uma ampla preferência pela candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. Em votos válidos, a diferença gira em torno de 20%, com um ingrediente essencial para as perspectivas dos candidatos: José Serra amarga uma rejeição de 52% - o que, na prática, praticamente enterra suas pretensões de virada nos últimos dias que restam até o final da campanha.
Todas as pesquisas mostram um crescimento continuado de Haddad. Conquistou a passagem para o segundo turno na reta final da campanha e desde a primeira aferição no segundo turno está em primeiro lugar. Para consolidar esse crescimento, um dado fundamental: 90% dos seus eleitores em potencial se dizem totalmente comprometidos com sua candidatura e não mudarão o voto.
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Os trabalhadores e o 2º turno em SP
Dia 28 de outubro serão realizadas as eleições para o segundo turno da capital paulista. A disputa entre Fernando Haddad e Serra coloca, de forma clara, os dois campos políticos que polarizam os rumos do Brasil e é, de longe, a mais importante batalha dessas eleições.
Serra representa o núcleo central da oposição conservadora. Não por acaso, um dos líderes de sua campanha é Fernando Henrique Cardoso, em cuja Presidência o Brasil submergiu no atoleiro do neoliberalismo e suas políticas de privatização, ataques aos direitos sociais e retrocessos democráticos.
Ma outra ponta, Fernando Haddad, que lidera todas as pesquisas de opinião do segundo turno, representa o amplo leque de forças políticas e sociais comprometidas com o ciclo progressista inaugurado pelo presidente Lula e que, agora, continua com a presidenta Dilma.
Nesse embate de projetos antagônicos, o movimento sindical tem um importante papel a cumprir. A base para definir o posicionamento dos trabalhadores é a "Agenda da Classe Trabalhadora", importante documento aprovado por mais de 30 mil sindicalistas na histórica Conferência Nacional da Classe Trabalhadora - Conclat - realizada no dia 1º de junho de 2010.
Nesse dia, os principais líderes das centrais sindicais brasileiras firmaram um compromisso público de contestar o retrocesso neoliberal representado pela candidatura Serra e sinalizaram o seu apoio classista para um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho representado pela candidatura Dilma.
Claro que as eleições municipais tem particularidades locais, mas em um município como São Paulo, pelo seu peso político e econômico, a batalha em curso tem dimensões nacionais e repercutirá, é óbvio, nas movimentações dos partidos com vista as eleições gerais de 2014.
Diante desse quadro, age com sabedoria a maioria dos dirigentes sindicais brasileiros que anunciam a realização de um ato para a próxima quarta-feira, dia 17 de outubro, no Sindicato dos Eletricitários de São Paulo, para expressar o apoio dos trabalhadores à candidadura Fernando Haddad.
Esse importante ato, em um momento decisivo do 2º turno, contará com a presença do ministro do Trabalho Brizola Neto, pedetista do Rio de janeiro, seis centrais sindicais e provavelmente do presidente Lula. Fernando Haddad e Nádia Campeão, candidatos a prefeito e a vice, receberão um documento dos dirigentes sindicais apresentando as propostas do sindicalismo para a nova administração.
Esse é o movimento certo. Infelizmente, o deputado e presidente da Força Sindical, Paulinho, depois de conduzir o PDT paulistano a uma grande derrota eleitoral, dá uma inexplicável guinada política à direita e embarca na canoa furada de José Serra. Líderes importantes de sua própria Central, no entanto, não seguem essa opção e devem engrossar o ato de quarta-feira.
Bem feitas as contas, a vitória de Haddad fará bem a São Paulo e aos trabalhadores. Adicionalmente, servirá como um importante contraponto à maré golpista que se abate sobre o Brasil e pavimentará o caminho para a continuidade do movimento progressista em nosso país.
Serra representa o núcleo central da oposição conservadora. Não por acaso, um dos líderes de sua campanha é Fernando Henrique Cardoso, em cuja Presidência o Brasil submergiu no atoleiro do neoliberalismo e suas políticas de privatização, ataques aos direitos sociais e retrocessos democráticos.
Ma outra ponta, Fernando Haddad, que lidera todas as pesquisas de opinião do segundo turno, representa o amplo leque de forças políticas e sociais comprometidas com o ciclo progressista inaugurado pelo presidente Lula e que, agora, continua com a presidenta Dilma.
Nesse embate de projetos antagônicos, o movimento sindical tem um importante papel a cumprir. A base para definir o posicionamento dos trabalhadores é a "Agenda da Classe Trabalhadora", importante documento aprovado por mais de 30 mil sindicalistas na histórica Conferência Nacional da Classe Trabalhadora - Conclat - realizada no dia 1º de junho de 2010.
Nesse dia, os principais líderes das centrais sindicais brasileiras firmaram um compromisso público de contestar o retrocesso neoliberal representado pela candidatura Serra e sinalizaram o seu apoio classista para um projeto nacional de desenvolvimento com valorização do trabalho representado pela candidatura Dilma.
Claro que as eleições municipais tem particularidades locais, mas em um município como São Paulo, pelo seu peso político e econômico, a batalha em curso tem dimensões nacionais e repercutirá, é óbvio, nas movimentações dos partidos com vista as eleições gerais de 2014.

Esse importante ato, em um momento decisivo do 2º turno, contará com a presença do ministro do Trabalho Brizola Neto, pedetista do Rio de janeiro, seis centrais sindicais e provavelmente do presidente Lula. Fernando Haddad e Nádia Campeão, candidatos a prefeito e a vice, receberão um documento dos dirigentes sindicais apresentando as propostas do sindicalismo para a nova administração.
Esse é o movimento certo. Infelizmente, o deputado e presidente da Força Sindical, Paulinho, depois de conduzir o PDT paulistano a uma grande derrota eleitoral, dá uma inexplicável guinada política à direita e embarca na canoa furada de José Serra. Líderes importantes de sua própria Central, no entanto, não seguem essa opção e devem engrossar o ato de quarta-feira.
Bem feitas as contas, a vitória de Haddad fará bem a São Paulo e aos trabalhadores. Adicionalmente, servirá como um importante contraponto à maré golpista que se abate sobre o Brasil e pavimentará o caminho para a continuidade do movimento progressista em nosso país.
quinta-feira, 6 de setembro de 2012
Guerra eleitoral em SP
As eleições municipais de São Paulo impressionam pelos números. O total de eleitores contabilizados pelo TSE soma 8.619.170. Essa multidão, superior a população de muitos estados brasileiros, vota em 1.962 locais diferentes. Desse universo heterogêneo, contam-se aos milhões às divisões por faixa etária, por escolaridade, por renda e por local de moradia.
Uma cidade cuja população é maior do que a de Portugal ou Cuba, para ficar apenas em dois exemplos, não tem pensamento político homogêneo. A extraordinária diversidade de sua composição tem como contrapartida um comportamento político que às vezes surpreende ou engana o observador menos atento. E essa complexidade aparece com força no atual processo eleitoral.
Pela lógica política, os dois partidos com maior representatividade na cidade, o PT de Haddad (na foto com a sua companheira de chapa, a candidata a vice-prefeita Nádia Campeão) polarizaria as eleições com o PSDB de Serra. Essa previsível bipolarização orientou, inclusive, a definição das táticas políticas e o eixo de atuação dos marqueteiros. As famosas pesquisas qualitativas, mola-mestra das campanhas, trilharam por esse rumo.
Mas fenômenos novos embaralharam as cartas do jogo sucessório paulistano. As mudanças mais emblemáticas atingiram o poleiro dos tucanos. Serra, em sua propaganda, diz que São Paulo não quer saber de mais taxas. Ocorre que há uma taxa especial que, para desgraça do candidato, cresce muito na cidade, que é a taxa de rejeição do eleitorado ao seu nome. Os números variam, mas ela ronda os 40%, índice que, se não for revertido, inviabiliza o eterno candidato.
Há um consenso na cidade de que a origem da rejeção deve-se a vários fatores: sua renúncia à prefeitura, quando havia prometido e registrado em cartório o compromisso de cumprir o mandato até o fim; a grande impopularidade do atual prefeito, seu sucessor e fiel aliado; a sensação de mesmice do seu nome e suas propostas, um veterano político de setenta anos que tem como característica principal participar de todas as eleições como trampolim para seu nunca alcançado sonho presidencial.
A soma desses fatores negativos funciona como uma âncora que segura seu crescimento. Cada rodada de pesquisa consolida a terrível gangorra em que Serra se meteu: sua rejeição é inversamente proporcional aos recalcitrantes eleitores que ainda apoiam o seu nome. Nessa enrascada em que está metido, Serra, agora, apela até para o impopular FHC dar uma força à sua campanha e cobra do seu desafeto interno, Geraldo Alckmin, um empenho que ele próprio não teve quando o atual governador disputava com Kassab os votos tucanos.
Na outra ponta, vemos o avanço consistente e continuado da coligação encabeçada por Haddad, fenômeno que já era, de certa forma, esperado. Apoiado por Lula e por Dilma, o candidato petista supera positivamente o fato de ser pouco conhecido na cidade. Tem o melhor programa para a Prefeitura e conta com uma ampla rede de apoios espalhada pela cidade. Acrescente-se a presença em sua campanha de lideranças políticas e populares e um bom programa de TV, o que dá capilaridade à campanha e credencia Haddad para ir ao segundo turno e vencer as eleições municipais.
O azarão da vez e a grande surpresa das eleições atende pelo nome de Russomano. Correndo por fora e sem se envolver em polêmicas com os outros candidatos, Russomano surpreendeu a todos e passou a liderar as últimas pesquisas, destronando José Serra. Mais: as indicações apontam que seu nome consegue avançar até em redutos tradicionais do PT.
As eleições serão daqui a um mês. Muita água vai rolar e as posições atuais podem se alterar. O voto espontâneo em Russomano, segundo alguns analistas, confere a ele o potencial de segurança para ir ao segundo turno, mesmo com uma base partidária e social bem mais frágil do que a de Haddad e a de Serra. Afirma-se que 85% dos eleitores de São Paulo querem mudança. A cristalização dessa vontade pode ser a pá de cal para Serra, de um lado, mas pode trazer um complicador para a campanha de Haddad: o novo, para parte do eleitorado, pode ser o próprio Russomano.
Esse embolamento cobrará dos responsáveis pela campanha de Haddad um triplo desafio: persistir no combate aos tucanos, consolidar a imagem e o programa do candidato e estudar uma flexão tática para uma polarização que não era esperada com Russomano. Tais variedades fazem parte da guerra eleitoral, não há com o que se espantar. O plano de campanha está bem orientado, mas adaptações no percurso podem ser necessárias. Por ora, garantir a presença no segundo turno é o essencial. E essa garantia parece que obrigará Haddad a dizer para Serra; "forasteiro, essa cidade é pequena (!) demais para nós dois!"
Uma cidade cuja população é maior do que a de Portugal ou Cuba, para ficar apenas em dois exemplos, não tem pensamento político homogêneo. A extraordinária diversidade de sua composição tem como contrapartida um comportamento político que às vezes surpreende ou engana o observador menos atento. E essa complexidade aparece com força no atual processo eleitoral.
Pela lógica política, os dois partidos com maior representatividade na cidade, o PT de Haddad (na foto com a sua companheira de chapa, a candidata a vice-prefeita Nádia Campeão) polarizaria as eleições com o PSDB de Serra. Essa previsível bipolarização orientou, inclusive, a definição das táticas políticas e o eixo de atuação dos marqueteiros. As famosas pesquisas qualitativas, mola-mestra das campanhas, trilharam por esse rumo.
Mas fenômenos novos embaralharam as cartas do jogo sucessório paulistano. As mudanças mais emblemáticas atingiram o poleiro dos tucanos. Serra, em sua propaganda, diz que São Paulo não quer saber de mais taxas. Ocorre que há uma taxa especial que, para desgraça do candidato, cresce muito na cidade, que é a taxa de rejeição do eleitorado ao seu nome. Os números variam, mas ela ronda os 40%, índice que, se não for revertido, inviabiliza o eterno candidato.
Há um consenso na cidade de que a origem da rejeção deve-se a vários fatores: sua renúncia à prefeitura, quando havia prometido e registrado em cartório o compromisso de cumprir o mandato até o fim; a grande impopularidade do atual prefeito, seu sucessor e fiel aliado; a sensação de mesmice do seu nome e suas propostas, um veterano político de setenta anos que tem como característica principal participar de todas as eleições como trampolim para seu nunca alcançado sonho presidencial.
A soma desses fatores negativos funciona como uma âncora que segura seu crescimento. Cada rodada de pesquisa consolida a terrível gangorra em que Serra se meteu: sua rejeição é inversamente proporcional aos recalcitrantes eleitores que ainda apoiam o seu nome. Nessa enrascada em que está metido, Serra, agora, apela até para o impopular FHC dar uma força à sua campanha e cobra do seu desafeto interno, Geraldo Alckmin, um empenho que ele próprio não teve quando o atual governador disputava com Kassab os votos tucanos.
Na outra ponta, vemos o avanço consistente e continuado da coligação encabeçada por Haddad, fenômeno que já era, de certa forma, esperado. Apoiado por Lula e por Dilma, o candidato petista supera positivamente o fato de ser pouco conhecido na cidade. Tem o melhor programa para a Prefeitura e conta com uma ampla rede de apoios espalhada pela cidade. Acrescente-se a presença em sua campanha de lideranças políticas e populares e um bom programa de TV, o que dá capilaridade à campanha e credencia Haddad para ir ao segundo turno e vencer as eleições municipais.
O azarão da vez e a grande surpresa das eleições atende pelo nome de Russomano. Correndo por fora e sem se envolver em polêmicas com os outros candidatos, Russomano surpreendeu a todos e passou a liderar as últimas pesquisas, destronando José Serra. Mais: as indicações apontam que seu nome consegue avançar até em redutos tradicionais do PT.
As eleições serão daqui a um mês. Muita água vai rolar e as posições atuais podem se alterar. O voto espontâneo em Russomano, segundo alguns analistas, confere a ele o potencial de segurança para ir ao segundo turno, mesmo com uma base partidária e social bem mais frágil do que a de Haddad e a de Serra. Afirma-se que 85% dos eleitores de São Paulo querem mudança. A cristalização dessa vontade pode ser a pá de cal para Serra, de um lado, mas pode trazer um complicador para a campanha de Haddad: o novo, para parte do eleitorado, pode ser o próprio Russomano.
Esse embolamento cobrará dos responsáveis pela campanha de Haddad um triplo desafio: persistir no combate aos tucanos, consolidar a imagem e o programa do candidato e estudar uma flexão tática para uma polarização que não era esperada com Russomano. Tais variedades fazem parte da guerra eleitoral, não há com o que se espantar. O plano de campanha está bem orientado, mas adaptações no percurso podem ser necessárias. Por ora, garantir a presença no segundo turno é o essencial. E essa garantia parece que obrigará Haddad a dizer para Serra; "forasteiro, essa cidade é pequena (!) demais para nós dois!"
sábado, 1 de setembro de 2012
O PIB brasileiro vai melhorar?
O crescimento do PIB brasileiro no segundo trimestre deste ano (0,4%), apesar do pequeno aumento em relação ao trimestre anterior, confirma as previsões mais pessimistas de que a evolução da economia brasileira em 2012 ficará abaixo de 2%.
Com a persistente redução dos investimentos e da produção industrial, a economia do país sob o comando de Dilma entra no segundo ano consecutivo de crescimento pífio. A pergunta que se faz é: o modelo sustentado no consumo está esgotado?
A resposta não é simples. Os estímulos fiscais e creditícios, que surtiram bons efeitos no governo Lula, agora parecem ter impacto menor. Volta à tona o debate sobre a necessidade de se ampliar os investimentos, hoje beirando a casa dos 17% a 18% do PIB.
O ideal, segundo quem entende do riscado, é uma taxa de investimentos em torno de 25% do PIB, direcionados principalmente para a retomada da produção industrial e a modernização da infraestrutura. O recente programa de investimentos em logística aponta para essa direção.
Alguns analistas consideram que o pior das dificultades já passou e que o Brasil, a partir do segundo semestre deste ano, exibirá um PIB mais robusto. Com isso, dizem, em 2013 o PIB pode chegar a 4%. Menos mal...
Como o crescimento do PIB, entre outras coisas, impacta a elevação do salário mínimo e do nível de emprego, os trabalhadores são os principais interessados em tirar o Brasil dessa incômoda posição de lanterninha no crescimento entre os BRICs e um dos mais baixos na própria América Latina.
Com a persistente redução dos investimentos e da produção industrial, a economia do país sob o comando de Dilma entra no segundo ano consecutivo de crescimento pífio. A pergunta que se faz é: o modelo sustentado no consumo está esgotado?
A resposta não é simples. Os estímulos fiscais e creditícios, que surtiram bons efeitos no governo Lula, agora parecem ter impacto menor. Volta à tona o debate sobre a necessidade de se ampliar os investimentos, hoje beirando a casa dos 17% a 18% do PIB.
O ideal, segundo quem entende do riscado, é uma taxa de investimentos em torno de 25% do PIB, direcionados principalmente para a retomada da produção industrial e a modernização da infraestrutura. O recente programa de investimentos em logística aponta para essa direção.
Alguns analistas consideram que o pior das dificultades já passou e que o Brasil, a partir do segundo semestre deste ano, exibirá um PIB mais robusto. Com isso, dizem, em 2013 o PIB pode chegar a 4%. Menos mal...
Como o crescimento do PIB, entre outras coisas, impacta a elevação do salário mínimo e do nível de emprego, os trabalhadores são os principais interessados em tirar o Brasil dessa incômoda posição de lanterninha no crescimento entre os BRICs e um dos mais baixos na própria América Latina.
terça-feira, 28 de agosto de 2012
Todo apoio ao Programa de Investimentos em Logística
No último dia 15 de agosto a presidenta Dilma Rousseff lançou o Programa de Investimentos em Logística. Esse Programa prevê investimentos de R$ 133 bilhões para construção e duplicação de 7,5 mil km de rodovias e a construção de 10 mil km de ferrovias.
A Empresa de Planejamento e Logística (EPL) será a responsável pelo planejamento estratégico da infraestrutura de transportes, no qual serão incorporados, em outras etapas, aeroportos e portos. Nos primeiros cinco anos serão investidos R$ 79,5 bilhões e em até 25 anos mais R$ 53,5 bilhões.
As rodovias construídas ou duplicadas serão divididas em nove trechos de oito estados. O vencedor da concessão será o que apresentar a tarifa mais baixa. As ferrovias a serem construídas serão divididas em doze trechos, no regime de parceria público-privada, e se destinarão ao transporte de produtos agrícolas.
O Programa de Investimentos em Logística objetiva aumentar a escala de investimentos públicos e privados em infraestrutura, promover a integração de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, reduzir custos, ampliar a capacidade de transporte, promover a eficiência e aumentar a competitividade do país.
A Empresa de Planejamento e Logística (EPL) será a responsável pelo planejamento estratégico da infraestrutura de transportes, no qual serão incorporados, em outras etapas, aeroportos e portos. Nos primeiros cinco anos serão investidos R$ 79,5 bilhões e em até 25 anos mais R$ 53,5 bilhões.
As rodovias construídas ou duplicadas serão divididas em nove trechos de oito estados. O vencedor da concessão será o que apresentar a tarifa mais baixa. As ferrovias a serem construídas serão divididas em doze trechos, no regime de parceria público-privada, e se destinarão ao transporte de produtos agrícolas.
O Programa de Investimentos em Logística objetiva aumentar a escala de investimentos públicos e privados em infraestrutura, promover a integração de rodovias, ferrovias, portos e aeroportos, reduzir custos, ampliar a capacidade de transporte, promover a eficiência e aumentar a competitividade do país.
O Programa é bom para o Brasil?
O programa é bom para o Brasil e deve ser apoiado. Ele é parte integrante de um conjunto de medidas para impulsionar o crescimento econômico do país. A principal variável para o crescimento é o investimento do país na retomada da industrialização e na a modernização da infraestrutura.
O Brasil precisa, segundo a opinião de boa parte dos especialistas, de ampliar os investimentos públicos e privados em um patamar mínimo de 25% do PIB. Para isso, as concessões e as parcerias são formas de gestão avançadas e positivas, adotadas, inclusive, em países como a China.
O professor Tiago Nery, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, em artigo publicado na revista Princípios nº 119, afirma, com razão, que "os neodesenvolvimentistas não veem contradição entre um Estado e um mercado fortes".
A manipulação da mídia e da oposição conservadora, e a histeria dogmática de grupos ultra-esquerdistas, tentaram vender a ideia de que esse Programa de Investimento teria um viés neoliberal e privatista. Tudo porque, na falaciosa argumentação desses setores, haveria capital privado na ampliação de infraestrutura.
No atual quadro de profunda crise mundial, que afeta todos os países, está na ordem do dia a adoção de medidas que garantam a continuidade do crescimento econômico do país. O papel central do Estado é impulsionar o crescimento e regular a ação do mercado no rumo do desenvolvimento.
As mudanças em curso na política macroeconômica, as medidas em defesa da indústria e o Programa de Investimentos em Infraestrutura constituem elementos importantes para blindar nossa economia da crise e retomar uma trajetória de crescimento sustentado e duradouro. O resto é blá-blá-blá.
sábado, 25 de agosto de 2012
Greves no Serviço Público Federal (II)
Segundo o Boletim Estatístico de Pessoal do Ministério do Planejamento, os servidores públicos federais se distribuem por 209 órgãos da administração pública federal direta, instituições federais de ensino, ex-territórios federais, autarquias, fundações e empresas públicas dependentes do Tesouro.
Em abril de 2012, o Brasil totalizava, segundo esse Boletim, 2.093.257 servidores, dos quais 1.132.381 na ativa e 960.876 aposentados e pensionistas. O Judiciário somava 130.523 servidores, o Legislativo 34.608 e o Executivo 1.928.126.
Do total de servidores do Executivo, os três maiores são: Educação - 231.767 (40,5%), Saúde - 100.306 e Previdência Social - 37.835. Em 2011, os gastos com pessoal somaram R$ 151 bilhões (R$ 80,1 bilhões aos servidores da ativa e R$ 70,9 bilhões para aposentados e pensionistas).
Em 1995, início do governo FHC, a relação entre despesa de pessoal e receita corrente líquida era de 29,8%. Em 2002, essa relação caiu para 18,8%. A despeito da chiadeira com os gastos com pessoal, em 2011 essa relação estava no patamar de 17,4%.
A maioria dos servidores públicos federais está localizada no Rio de Janeiro, ex-capital federal (265.219, ativos 102.253 ), Distrito Federal (167.542, ativos 62.892), Minas Gerais (97.152, ativos 48.002) e em quarto lugar São Paulo (85.296, ativos 40.491).
Quanto à remuneração média, a) 1,6% recebe até R$ 1.034,59 (dados de abril de 2012), b) 55% recebem entre R$ 1,2 mil a R$ 5,5, c) 21,8% entre R$ 5,5 mil a R$ 8,5 mil, d) 12,5% entre R$ 8,5 mil a R$ 13 mil e e) 9,1% mais de R$ 13 mil.
A onda de greves do funcionalismo público neste último período, reabriu o debate sobre o papel do governo diante da demanda dos seus servidores. O primeiro problema é a não definição das regras do jogo. A Convenção 151 da OIT, que trata do assunto, até hoje não foi ratificada no Brasil.
Ao contrário do sindicalismo dos trabalhadores do setor privado, no funcionalismo não há data-base, não tem instância judicial para arbitrar os conflitos e, para agravar, há uma grande multiplicidade de entidades que representam os diferentes segmentos dos servidores públicos.
Como o governo precisa enviar ao Congresso Nacional, até 31 de agosto de cada ano, sua proposta orçamentária, esse mês acabou se tornando uma espécie de data-base informal dos servidores, já que se necessita incorporar no orçamento as alterações salariais e nos planos de carreira.
Uma segunda questão é que, diante da crise econômica internacional, o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, ex-diretor-técnico do Dieese, avisou às lideranças do funcionalismo que não haveria reajuste salarial este ano.
Os servidores públicos vêem que seus companheiros trabalhadores do setor privado vivem uma situação razoável de emprego e renda. O desemprego é um dos mais baixos da história e os acordos e convenções coletivas zeram as perdas inflacionárias e garantem algum ganho real.
Embora haja lideranças que procuram radicalizar artificialmente o movimento dos servidores, com o único intuito de desgastar o governo, a verdade é que as recentes mobilizações, pela sua amplitude, demonstram uma insatisfação generalizada que precisa ter tratamento adequado.
Além das dezenas de confederações, federações, sindicatos e associações que dirigem as atuais greves, três centrais sindicais participam do processo de mobilização e negociação:a CUT, a CTB e a Conlutas.
Como o setor da Educação, majoritário, está em fase final de conclusão do acordo, a tendência é que o movimento grevista termine nas próxims semanas. Dois problemas reclamam solução: regulamentação da negociação e definção de interlocutores representativos dos servidores.
Em abril de 2012, o Brasil totalizava, segundo esse Boletim, 2.093.257 servidores, dos quais 1.132.381 na ativa e 960.876 aposentados e pensionistas. O Judiciário somava 130.523 servidores, o Legislativo 34.608 e o Executivo 1.928.126.
Do total de servidores do Executivo, os três maiores são: Educação - 231.767 (40,5%), Saúde - 100.306 e Previdência Social - 37.835. Em 2011, os gastos com pessoal somaram R$ 151 bilhões (R$ 80,1 bilhões aos servidores da ativa e R$ 70,9 bilhões para aposentados e pensionistas).
Em 1995, início do governo FHC, a relação entre despesa de pessoal e receita corrente líquida era de 29,8%. Em 2002, essa relação caiu para 18,8%. A despeito da chiadeira com os gastos com pessoal, em 2011 essa relação estava no patamar de 17,4%.
A maioria dos servidores públicos federais está localizada no Rio de Janeiro, ex-capital federal (265.219, ativos 102.253 ), Distrito Federal (167.542, ativos 62.892), Minas Gerais (97.152, ativos 48.002) e em quarto lugar São Paulo (85.296, ativos 40.491).
Quanto à remuneração média, a) 1,6% recebe até R$ 1.034,59 (dados de abril de 2012), b) 55% recebem entre R$ 1,2 mil a R$ 5,5, c) 21,8% entre R$ 5,5 mil a R$ 8,5 mil, d) 12,5% entre R$ 8,5 mil a R$ 13 mil e e) 9,1% mais de R$ 13 mil.
A onda de greves do funcionalismo público neste último período, reabriu o debate sobre o papel do governo diante da demanda dos seus servidores. O primeiro problema é a não definição das regras do jogo. A Convenção 151 da OIT, que trata do assunto, até hoje não foi ratificada no Brasil.
Ao contrário do sindicalismo dos trabalhadores do setor privado, no funcionalismo não há data-base, não tem instância judicial para arbitrar os conflitos e, para agravar, há uma grande multiplicidade de entidades que representam os diferentes segmentos dos servidores públicos.
Como o governo precisa enviar ao Congresso Nacional, até 31 de agosto de cada ano, sua proposta orçamentária, esse mês acabou se tornando uma espécie de data-base informal dos servidores, já que se necessita incorporar no orçamento as alterações salariais e nos planos de carreira.
Uma segunda questão é que, diante da crise econômica internacional, o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, ex-diretor-técnico do Dieese, avisou às lideranças do funcionalismo que não haveria reajuste salarial este ano.
Os servidores públicos vêem que seus companheiros trabalhadores do setor privado vivem uma situação razoável de emprego e renda. O desemprego é um dos mais baixos da história e os acordos e convenções coletivas zeram as perdas inflacionárias e garantem algum ganho real.
Embora haja lideranças que procuram radicalizar artificialmente o movimento dos servidores, com o único intuito de desgastar o governo, a verdade é que as recentes mobilizações, pela sua amplitude, demonstram uma insatisfação generalizada que precisa ter tratamento adequado.
Além das dezenas de confederações, federações, sindicatos e associações que dirigem as atuais greves, três centrais sindicais participam do processo de mobilização e negociação:a CUT, a CTB e a Conlutas.
Como o setor da Educação, majoritário, está em fase final de conclusão do acordo, a tendência é que o movimento grevista termine nas próxims semanas. Dois problemas reclamam solução: regulamentação da negociação e definção de interlocutores representativos dos servidores.
domingo, 19 de agosto de 2012
Greves no serviço público federal
Depois de muitos anos, o Brasil acompanha uma das maiores greves do funcionalismo público federal. O movimento teve início em maio, com a greve dos docentes federais vinculados à ANDES (a Proifes aderiu ao movimento mais tarde) e a adesão posterior ao movimento paredista de cerca de quarenta categorias de servidores.
Cada categoria tem suas especificidades, reivindicações salariais e de progressão de carreira próprias, mas as causas do movimento são atribuídas, fundamentalmente, à política de ajuste fiscal do governo para enfrentar à crise, em especial a não concessão de reajustes salariais e outros benefícios para este ano.
Os servidores públicos são representados por dezenas de confederações, federações, sindicatos e associações, das mais variadas orientações políticas. A CTB, a CUT e a Conlutas participam da direção do movimento. É oportuno lembrar que as centrais sindicais divulgaram um manifesto de apoio às greves, cobrando e conseguindo do governo a reabertura de negociações. As divergências no encaminhamento da greve, naturais diante da heterogeneidade das diferentes categorias de servidores, devem ser avaliadas após a conclusão do movimento.
O orçamento público federal deste ano foi elaborado, de acordo com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), a partir de cinco parâmetros: a) inflação medida pelo IPCA/IBGE de 4,8%, b) crescimento do PIB em 5%, atingindo o valor de R$ 4,54 trilhões, c) taxa de câmbio de R$ 1,64 o dólar, d) taxa de juros Selic de 12,54% e e) salário mínimo de R$ 619,21.
Os números projetados sofreram algumas mudanças ao longo do ano. O IPCA anualizado está em 5,20%, o PIB não deve alcançar 2%, o dólar está em torno de R$ 2,00, a taxa Selic em 8% e salário mínimo é de R$ 622,00. Os cálculos, portanto, precisam ser refeitos para se atualizar os dados, mas o orçamento previa, por exemplo, pagamento de R$ 257,6 bilhões de juros e amortizações e R$ 653,3 bilhões em refinanciamento da dívida. Essa sangria financeira, um dos grandes problemas do nosso país, é o principal nó a ser desatado para o Brasil avançar no sentido do desenvolvimento com progresso social.
Todo ano, em 31 de agosto, o governo precisa enviar a proposta orçamentária ao Congresso Nacional. Com isso, esse dia se transformou,na prática, em data-base para as campanhas salariais dos servidores públicos, conforme lembra Sérgio Mendonça, secretário de Relações de Trabalho no Serviço Público do MPOG. Como estamos a duas semanas do fim do mês, governo e entidades aceleram as negociações para superar o impasse.
O governo colocou na mesa de negociação, para dezoito categorias, a proposta de reajuste salarial acumulado de 15,8% parcelados em três vezes (5% nos meses de março/2012, março/2013, março/2014) e alterações na política de progressão no Plano de Cargos e Carreira. As negociações continuam, mas o comando de greve já marcou um novo Dia Nacional de Lutas, em Brasília, para o próximo dia 21 de agosto, 3ª feira. As perspetivas, no entanto, apontam para uma solução negociada da maioria das categorias.
Cada categoria tem suas especificidades, reivindicações salariais e de progressão de carreira próprias, mas as causas do movimento são atribuídas, fundamentalmente, à política de ajuste fiscal do governo para enfrentar à crise, em especial a não concessão de reajustes salariais e outros benefícios para este ano.
Os servidores públicos são representados por dezenas de confederações, federações, sindicatos e associações, das mais variadas orientações políticas. A CTB, a CUT e a Conlutas participam da direção do movimento. É oportuno lembrar que as centrais sindicais divulgaram um manifesto de apoio às greves, cobrando e conseguindo do governo a reabertura de negociações. As divergências no encaminhamento da greve, naturais diante da heterogeneidade das diferentes categorias de servidores, devem ser avaliadas após a conclusão do movimento.
A briga pelo divisão do bolo orçamentário
O orçamento público federal deste ano foi elaborado, de acordo com o Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), a partir de cinco parâmetros: a) inflação medida pelo IPCA/IBGE de 4,8%, b) crescimento do PIB em 5%, atingindo o valor de R$ 4,54 trilhões, c) taxa de câmbio de R$ 1,64 o dólar, d) taxa de juros Selic de 12,54% e e) salário mínimo de R$ 619,21.
Os números projetados sofreram algumas mudanças ao longo do ano. O IPCA anualizado está em 5,20%, o PIB não deve alcançar 2%, o dólar está em torno de R$ 2,00, a taxa Selic em 8% e salário mínimo é de R$ 622,00. Os cálculos, portanto, precisam ser refeitos para se atualizar os dados, mas o orçamento previa, por exemplo, pagamento de R$ 257,6 bilhões de juros e amortizações e R$ 653,3 bilhões em refinanciamento da dívida. Essa sangria financeira, um dos grandes problemas do nosso país, é o principal nó a ser desatado para o Brasil avançar no sentido do desenvolvimento com progresso social.
Agosto, mês chave para as negociações
Todo ano, em 31 de agosto, o governo precisa enviar a proposta orçamentária ao Congresso Nacional. Com isso, esse dia se transformou,na prática, em data-base para as campanhas salariais dos servidores públicos, conforme lembra Sérgio Mendonça, secretário de Relações de Trabalho no Serviço Público do MPOG. Como estamos a duas semanas do fim do mês, governo e entidades aceleram as negociações para superar o impasse.
O governo colocou na mesa de negociação, para dezoito categorias, a proposta de reajuste salarial acumulado de 15,8% parcelados em três vezes (5% nos meses de março/2012, março/2013, março/2014) e alterações na política de progressão no Plano de Cargos e Carreira. As negociações continuam, mas o comando de greve já marcou um novo Dia Nacional de Lutas, em Brasília, para o próximo dia 21 de agosto, 3ª feira. As perspetivas, no entanto, apontam para uma solução negociada da maioria das categorias.
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
O Dragão Chinês
De 22 a 31 de julho eu tive a oportunidade de conhecer a China. Participei de uma delegação de dez brasileiros do PT, PSB e PCdoB (na foto ao lado, Academia Yuelu, universidade de mil anos). Convidados pelo Partido Comunista Chinês, tivemos a oportunidade de transitar pelas relíquias histórias até as mais avançadas áreas de ciência e tecnologia. Foi um banho de cultura e política de um país com cinco mil anos ininterruptos de história.
Os brasileiros tivemos a oportunidade de conhecer o Ninho dos Pássaros e o Cubo d'Água, respectivamente o estádio e o centro aquático onde se realizaram as Olimpíadas de Pequim. Conhecemos também a Cidade Proibida, a Grande Muralha, Museu de Bambu (com inscrições em mandarim) e a casa natal deMao Zedong. Acompanhamos exposições no Centro de Desenvolvimento de Arroz Híbrido e no Centro de Planejamento Urbano de Shangai, visitamos empresas de alta tecnologia, porto, torre de TV e um espetáculo de acrobacia.
Para além dessas visitas, todas monitoradas por especialistas de cada uma das áreas, participamos também de reuniões com lideranças partidárias e acadêmicas sobre as relações da China com a América Latina e o Brasil, sobre o PCCh e principalmente sobre a política de reforma e abertura. Tivemos também a oportundiade, cada um dos partidos, de reuniões bilaterais com o PCCh e de expor nossos pontos de vista sobre a realidade brasileira.
Quando se chega à China, o impacto é imediato. Aeroportos bem maiores e modernos do que os brasileiros, estradas, vias elevadas, trens-balas, metrô em um sofisticado sistema viário, ampla arborização nas cidades, edifícios modernos e futuristas ao lado de patrimônios históricos preservados.
Tudo isso é resultado de uma cultura milenar, da constituição da Nova China (a partir da Revolução de 1949) e, atualmente, de três décadas de crescimento do PIB em média 10% ao ano, iniciado em 1978 com a chamada política de reforma e abertura. Para os chineses, o desenvolvimento das forças produtivas é uma obsessão e garantia de duas prioridades estratégicas: independência e prosperidade.
Para a liderança chinesa, antes existia igualdade com pouca renda, hoje reconhecem a existência da desigualdade (social e regional), porém com uma renda bem maior. Esse é um dos desafios postos para a China, ao lado da pressão sobre o meio ambiente (o país consome metade do cimento e do aço produzidos no mundo) e dos complexos problemas teóricos e práticos para se alcançar um consenso sobre o ritmo e a qualidade dos próximos passos da reforma e abertura.
Com a crise econômica mundial, a China procura inverter suas prioridades, enfatizando o mercado interno e o consumo doméstico em relação aos investimentos com vistas à exportação. O binômio paz e desenvolvimeno continua a presidir a ação daquele país. Teorizam que, ao contrário do que previra Marx, as revoluções socialistas surgiram nos países atrasados, não nos países capitalistas altamente desenvolvidos. Por isso, consideram que a questão do desenvolvimento das forças produtivas é essencial. Um grande objetivo imediato é transferir 300 milhões de chineses do campo para as cidades, para avançar a urbanização no país!
Dez dias são poucos para conhecer a história milenar desse país. Também não é problema simples ter uma opinião de conjunto sobre o modelo chinês, que procura demarcar com o antigo modelo de planejamento centralizado soviético e construi o socialismo em conformidade com as peculariedades chinesas. Com base na visão teórica de que há mercado no socialismo da mesma forma que há planejamento no capitalismo, os chineses adotam aquilo que chamam de economia socialista de mercado, uma busca de equilíbrio entre o forte desenvolvimento das forças de mercado com o controle estatal dos setores estratégicos da economia.
Independentemente do juízo de valor que façamos desse rumo, uma coisa é incontestável. O extraordinário crescimento do dragão chinês é uma realidade irrefutável, que levou o país a ser a segunda economia mundial, a maior potência industrial e protagonista de um crescimento continuado provavelmente sem precedentes na história moderna do mundo.
Os brasileiros tivemos a oportunidade de conhecer o Ninho dos Pássaros e o Cubo d'Água, respectivamente o estádio e o centro aquático onde se realizaram as Olimpíadas de Pequim. Conhecemos também a Cidade Proibida, a Grande Muralha, Museu de Bambu (com inscrições em mandarim) e a casa natal deMao Zedong. Acompanhamos exposições no Centro de Desenvolvimento de Arroz Híbrido e no Centro de Planejamento Urbano de Shangai, visitamos empresas de alta tecnologia, porto, torre de TV e um espetáculo de acrobacia.
Para além dessas visitas, todas monitoradas por especialistas de cada uma das áreas, participamos também de reuniões com lideranças partidárias e acadêmicas sobre as relações da China com a América Latina e o Brasil, sobre o PCCh e principalmente sobre a política de reforma e abertura. Tivemos também a oportundiade, cada um dos partidos, de reuniões bilaterais com o PCCh e de expor nossos pontos de vista sobre a realidade brasileira.
A surpresa chinesa
Quando se chega à China, o impacto é imediato. Aeroportos bem maiores e modernos do que os brasileiros, estradas, vias elevadas, trens-balas, metrô em um sofisticado sistema viário, ampla arborização nas cidades, edifícios modernos e futuristas ao lado de patrimônios históricos preservados.
Tudo isso é resultado de uma cultura milenar, da constituição da Nova China (a partir da Revolução de 1949) e, atualmente, de três décadas de crescimento do PIB em média 10% ao ano, iniciado em 1978 com a chamada política de reforma e abertura. Para os chineses, o desenvolvimento das forças produtivas é uma obsessão e garantia de duas prioridades estratégicas: independência e prosperidade.
Para a liderança chinesa, antes existia igualdade com pouca renda, hoje reconhecem a existência da desigualdade (social e regional), porém com uma renda bem maior. Esse é um dos desafios postos para a China, ao lado da pressão sobre o meio ambiente (o país consome metade do cimento e do aço produzidos no mundo) e dos complexos problemas teóricos e práticos para se alcançar um consenso sobre o ritmo e a qualidade dos próximos passos da reforma e abertura.
A China e a crise
Com a crise econômica mundial, a China procura inverter suas prioridades, enfatizando o mercado interno e o consumo doméstico em relação aos investimentos com vistas à exportação. O binômio paz e desenvolvimeno continua a presidir a ação daquele país. Teorizam que, ao contrário do que previra Marx, as revoluções socialistas surgiram nos países atrasados, não nos países capitalistas altamente desenvolvidos. Por isso, consideram que a questão do desenvolvimento das forças produtivas é essencial. Um grande objetivo imediato é transferir 300 milhões de chineses do campo para as cidades, para avançar a urbanização no país!
Dez dias são poucos para conhecer a história milenar desse país. Também não é problema simples ter uma opinião de conjunto sobre o modelo chinês, que procura demarcar com o antigo modelo de planejamento centralizado soviético e construi o socialismo em conformidade com as peculariedades chinesas. Com base na visão teórica de que há mercado no socialismo da mesma forma que há planejamento no capitalismo, os chineses adotam aquilo que chamam de economia socialista de mercado, uma busca de equilíbrio entre o forte desenvolvimento das forças de mercado com o controle estatal dos setores estratégicos da economia.
Independentemente do juízo de valor que façamos desse rumo, uma coisa é incontestável. O extraordinário crescimento do dragão chinês é uma realidade irrefutável, que levou o país a ser a segunda economia mundial, a maior potência industrial e protagonista de um crescimento continuado provavelmente sem precedentes na história moderna do mundo.
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