O diretor-técnico do DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - Clemente Ganz Lúcio, proferiu uma palestra nesta segunda-feira, 23 de março, no Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo, abordando o tema "Crise Internacional, Conjuntura Macroeconômica e Negociação Salarial".
A exposição ampla e consistente deu início a uma série que o Dieese fará em todos os estados do Brasil. No início, Clemente aborda a crise atual do capitalismo. Para ele, esta é a maior crise desde 1929, atinge todos os países e terá duração e intensidade diferentes para todos os países. A gravidade da crise pode ser dimensionada pela incapacidade de os organismos multilaterais como FMI e Banco Mundial chegarem a um acordo sobre as perspectivas econômicas mundiais, gerando um clima de incertezas generalizadas.
Para o técnico, a situação singular vivida pelo Brasil de democracia, crescimento econômico e distribuição de renda sofreu um baque com a crise. As greves passarão, segundo ele, de propositivas ( novas conquistas) para reativas (segurar o que tem).
Dos vários indicadores citados pelo palestrante do Dieese, destaco dois: a) o sistema financeiro internacional passou a adotar um índice de alavancagem de 35 vezes superior aos ativos; isto quer dizer, para quem não é versado no economês, que uma instituição financeira emprestava até 35 vezes o seu ativo, quando a norma internacional recomenda uma alavancagem máxima de 12 vezes; b) outro dado inquietante é que o PIB mundial é de US$ 70 trilhões e a atual crise já pulverizou US$ 65 bilhões.
Clemente afirma que existe uma possibilidade da crise combinar dois fatores destrutivos na economia mundial: a recessão pode se transformar em depressão e esta ainda pode conviver com a deflação (a queda contínua dos preços trava os investimentos).
A seguir, o Dieese aponta estudos sobre o mercado de trabalho no Brasil. Emprego e salário comparados com o crescimento da economia, a inflação etc. Foi um longo e importante relato - indispensável para todo sindicalista.
Um dado de 2008 é interessante para mostrar a rotatividade do emprego no Brasil. Nesse ano, foram contratados (mercado formal) 16.659.331 trabalhadores, demitidos 15.207.127, o que resulta num saldo positivo (número de empregos formais) de 1.452.204.
Ocorre que 60% das dispensas ocorreram com trabalhadores com menos de um ano de carteira assinada (9 milhões), dado que revela a imensa volatilidade do emprego no país. Uma outra informação preocupante é que há redução da média salarial dos admitidos em comparação à média salarial dos demitidos. Essa situação foi parcialmente atenuada pela política de valorização do salário mínimo.
A luta, portanto, é por uma política de desenvolvimento nacional que incorpore medidas efetivas para gerar mais e melhores empregos (lutar pelo pleno emprego), limitar dramaticamente a rotatividade do trabalho (como, por exemplo, via aprovação da Convenção 158 da OIT) , reduzir jornada sem reduzir salário, manter a política de valorização do salário mínimo.
Essas medidas interessam aos trabalhadores e ao conjunto da sociedade, por que, como afirma o Dieese, é no fortalecimento do mercado interno que reside os principais trunfos do Brasil para se safar da crise. E é por aí também que vamos dar conta de um grande desafio: o Brasil precisa abrir dois milhões de novas vagas anuais só para atender a juventude que ingressa no mercado de trabalho.
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