domingo, 12 de setembro de 2010

A "nova classe média" e as eleições

A Pesquisa Nacional de Análise de Domicílios (PNAD/IBGE) revela um dado importante. A chamada "classe C", ou "nova classe média", passou a ser o segmento majoritário do Brasil e seu poder de consumo ultrapassa ao das chamadas classes A e B.

A "nova classe média", com renda de R$ 1.126,00 a R$ 4.854,00, corresponde a 94,9 milhões de pessoas (50,5% dos brasileiros) e representa 46,24% do poder de compra. As chamadas classes A e B, os ricos tão adorados pelos tucanos, com 20 milhões de pessoas (10,5% da população), tem poder de compra de 44,12%.

 Essa forma de analisar e classificar a sociedade é de interesse, principalmente, dos empresários interessados em captar as mudanças que ocorrem na base da sociedade e em estabelecer novas estratégias para atingir esse robusto mercado consumidor. No entanto, é inegável que também essa situação de "feel good factor" (ou, na linguagem irônica, " se melhorar, estraga")  provoca repercussões políticas.

Empresários de olho gordo na "nova classe média" 


A Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) adota o Critério de Classificação Econômica para estimar o poder de compra das pessoas e das famílias urbanas. Esse divisão, é óbvio, se distingue da análise da sociedade a partir do conceito de classes sociais, tão cara aos marxistas.

O critério de classificação econômica leva em conta a posse de alguns itens (TV em cores, rádio, banheiro, automóvel, empregada mensalista, máquina de lavar, videocassete ou DVD, geladeira e freezer). Esses dados são cruzados com a escolaridade e, a partir daí, as pessoas são classificadas em oito segmentos.

As "classes" recebem denominação alfanumérica a partir da soma dos pontos atingidos. Em 2009, a Abep calculou o percentual da população de cada um dos oito segmentos e sua respectiva renda média familiar ponderada. Os dados abaixo referem-se à classe, à renda média familair e ao peso percentual de cada uma delas.

A1 - R$ 14.550 (0,5%); A2 - R$ 9.850 (4,1%); B1 - R$ 5.350 (9,2%); B2 - R$ 2.950 (19,4%); C1 - R$ 1650 (25,6%); C2 - R$ 1.100 (23,1%); D - R$ 750 (17,1%0; E - R$ 410 (1,1%).

Essa numerolagia toda, que não escapa da atenção dos empresários, também devem merecer novos estudos das forças políticas. A abordagem política desse segmento passa a ser decisiva na luta pela conquista da maioria política e da hegemonia.

A Era Lula, período no qual essas mudanças adquiraram vigor e visibilidade, torna o nosso presidente o principal benefciário dos dividendos políticos dessa pequena "revolução" silenciosa na distribuição de renda do país, que, apesar disso, continua a ser um dos dez mais desiguais do mundo.

As eleições desse ano são emblemáticas. O arrastão que deve levar Dilma à vitória no primeiro turno tem tudo a ver com isso, porque a mobilidade social se realiza junto com um maior equilíbrio regional no crescimento econômico, no qual o nordeste brasileiro é o maior exemplo.

Esse movimento todo pode atingir também as eleições para os governos estaduais, para o senadores e para os deputados. A onda vermelha parece afogar tucanos e demos em todo o país - e esta é a principal explicação para a paranoia desesperada da mídia contra Dilma e seus aliados.

Espera-se que a onda vermelha banhe as águas do Rio Tietê e se consiga em São Paulo o que parecia inimaginável há pouco tempo. Dilma já está na dianteira, Netinho e Marta idem, Mercadante tem chances reais de ir ao 2º turno e nossos deputados federais e estaduais devem se dar bem no defecho na peleja eleitoral.

Nas eleições paulistas, por exemplo, o Jardim Ângela, periferia sul da Capital, fala mais alto do que o nobre Jardim Europa. É a turma do gueto, representada tão bem por Netinho, candidato do PCdoB ao Senado por São Paulo, dando a resposta nas urnas. Ou, na linguagem peculiar, é nóis na fita, mano.

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