terça-feira, 28 de abril de 2009

Pensando alto

O fim da História de Francis Fukuyama e a Nova Ordem Mundial de Bush pai (fim da década de 80 e início da década de 90 do século passado), proclamados diante dos escombros do Muro de Berlim, deixou-nos os advogados do socialismo na defensiva. Isso é um fato.

Outro fato é que, vinte anos depois, como reconhecem os próprios ideólogos do liberalismo, a atual crise do capitalismo representa um duro golpe nos dogmas da turma do Consenso de Washington. No limite, o jogo está empatado do ponto de vista da luta de ideias.

Quem melhor dissecou o capitalismo, a inevitabilidade das crises desse sistema e a necessidade histórica de superá-lo foi Marx. Logo, estudar Marx ajuda a compreender melhor o problema, 50% do caminho a ser percorrido.

Os outros quinhentos é cantar "que alegria, que alegria, estou preparando o funeral da burguesia!", como cantaram os delegados gaúchos em um dos congressos partidários.

Avancemos. No escravismo e no feudalismo, modos de produção anteriores ao capitalismo, o explorador consumia a massa de produto excedente dos produtores diretos. Não havia, como regra, acumulação.

No capitalismo, a mais-valia (a parte do trabalho não remunerada), é investida na produção, processo que gera a acumulação de capital. Os capitalistas não produzem para si, mas para o mercado. Dependem, cada vez mais, de demanda equivalente à produção crescente.

Devido à concorrência no mercado, eles buscam aumentar a produtividade para vender suas mercadorias em melhores condições do que os rivais. Para tanto, investem bem mais em capital constante (meios de produção: máquinas, equipamentos, terrenos) do que em capital variável (empregado para a aquisição da força de trabalho).

O capital constante transfere mas não agrega valor ao produto final. Quem agrega valor é uma mercadoria especial chamada força-de-trabalho. Ocorre que o capital constante cresce em progressão geométrica e o capital variável em progressão aritmética. As inovações tecnológicas e os novos métodos produtivos que substituem o trabalho humano são exemplos práticos disso.

O capitalista busca sempre o lucro máximo. Ocorre que quanto maior a produtividade, menor é o lucro. Parece uma contradição, mas não é. A produtividade está associada fundamentalmente ao capital constante, não ao variável.

O aumento da produtividade garante lucros imediatos para uma fração da burguesia, mas no conjunto o que se tem é uma tendência à queda da taxa de lucros, já que o lucro é originário, como se sabe, da mais-valia, e a mais-valia é obtida com a exploração da força de trabalho, com o trabalho humano.

Se se diminui a composição orgânica do capital (mais capital constante e menos capital variável), inevitavelmente se diminui a massa de força de trabalho sobre a qual se extrai mais-valia. Essa assimetria é que dá base à queda na taxa de lucros.

Um assunto mais complicado é o que trata do capital financeiro (capital portador de juros). Destaco apenas que uma parte desse capital é o capital fictício, que não tem correspondência na produção, na economia real. O lucro obtido na forma de juros é exacerbado e se chega ao paroxismo.

O capital fictício cresce tanto que não há mais-valia para sua realização. Os derivativos são famosos exemplos disso. Em dezembro de 2007, segundo o Banco de Compensações Internacionais, os derivativos somavam US$ 516 trilhões, dez vezes mais que o PIB mundial!

De um lado a produção aumenta exponencialmente, atingindo um volume maior do que a capacidade de consumo, sobretudo de bens de produção. De outro, a elevação monumental do capital fictício. Esses dois fatores combinados provocam um curto-circuito no sistema e detona crise.

A desconfinaça nos papeis, a retração do crédito, a superprodução, tudo, enfim, exigirá uma enorme destruição de capital, hoje quantificados em inacreditáveis trilhões de dólares! Todos são atingidos pela crise, mas de forma desigual e assimétrica.

Parcela da burguesia, com a liquidação dos concorrentes, até ganha com a crise. Exemplo: se a Sadia quebra, como parece que vai acontecer, a Perdigão leva vantagem. Já para os trabalhadores não há ganho, só perdas: de emprego, de salário e de direitos.

Minhas limitações teóricas, neste ponto, atingem o apogeu. Creio até que algumas formulações precisariam ser mais claras, alguns conceitos talvez demandem uma melhor definição. Agradeço quem, com mais propriedade, possa preencher essas lacunas.

Mas o ponto que me pertuba mesmo é o seguinte: as crises por si só não derrubam o capitalismo. Elas são os fatores objetivos. Sem os fatores subjetivos (consciência, organização e mobilização) não se inicia a jornada para um novo modo de produção.

Como alguém disse, o capitalismo precisa de um coveiro para enterrá-lo, sem o que ele retoma sua trajetória, como fênix.

As palavras de ordem de propaganda ganham vigor novo. Hoje, o socialismo já não é coisa de dinossauros, faz parte do debate. Combinar essa perspectiva estratégica com uma agenda de medidas imediatas e mediatas é o desafio para acumular forças, conquistar hegemonia, edificar um novo poder. Em uma frase: empreender o caminhoda transição ao socialismo.

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